segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Natal em família: FAIL.

Conforme anunciado em post anterior, neste ano nós resolvemos mais uma vez tentar um prosaico Natal em Família. Eis a definição, na teoria: passar o dia 24, inclusive a ceia, com todos os membros disponíveis da família; entenda-se por disponíveis aqueles que moram relativamente próximo à casa dos anfitriões (nós) e que tenham com eles no presente momento um relacionamento no mínimo aceitável e com alguma estabilidade. A teoria também indica que o dia 24, que é tomado pelos preparativos da ceia, seja também uma animada reunião onde todos confraternizam e se solidarizam, pondo de lado suas diferenças, culminando no momento da ceia, onde todos devorarão os quitutes preparados em conjunto por toda a família. Em quatro tentativas, as coisas nunca saíram assim.
Vou pular a descrição das falhas anteriores, porque não me lembro direito dos detalhes. Mas vamos explicar por que todo ano Dani e eu preferimos ficar a sós no Natal.
Os problemas sempre começam na organização da ceia: uns sempre trabalham mais, gastam mais e se estressam mais do que os outros. Neste ano os patos da vez fomos Dani, eu e minha mãe. A velha enfrentou uma fila estressante de 4 horas no mercado, enquanto eu gastei quase R$ 200,00 para comprar os ingredientes para a janta. Dani e eu também passamos na peixaria e compramos tainha e camarões para aumentar o rango.
No dia 24 em questão repetiu-se o filme tantas vezes visto por nós: minhas tias limitaram-se a ficar sentadas e falar sandices enquanto Dani, minha mãe e eu nos esfolávamos na cozinha para preparar aperitivos, bebidas e a ceia propriamente dita. Como há anos nós aqui de casa adotamos uma postura alimentar na qual não nos entupimos de lixo, ironicamente, passamos o dia preparando iguarias que nós mesmos não comeríamos, como rabanadas e salgadinhos. Enquanto suávamos como porcos na cozinha, minhas queridas tias e minha sogra jogavam conversa fora e enfiavam as frituras goela abaixo. No momento da ceia ainda tivemos de servi-las, já que mal se movimentam de tão obesas. Ao fim, não lavaram um copo e foram para casa de bucho cheio.
Se o Natal é símbolo de solidariedade, alguém deveria informar essas pessoas de que isso inclui dar uma força nas tarefas mais difíceis, ou pelo menos colaborar financeiramente, já que o negócio não está bom para ninguém. Fingir-se de desentendido e ficar acomodado parece não ser pecado para essa gente que adora se aproveitar do próximo nessas datas em que somos mais tolerantes (“- Ah, deixa pra lá, é Natal!”). Como se o bom senso deixasse de existir nesse dia.
Por esse motivo, portanto, é que Dani e eu sempre passamos o Natal sozinhos. O Natal, essa data tão bonita para todos, a despeito de credo, símbolo de união e confraternização, deve ser compartilhado somente com aqueles que partilham do mesmo sentimento. Encher a mesa de parentes deitões e que só aparecem uma vez por ano, para cear, não tem nada a ver com tolerância: tem a ver com ser bobo e deixar-se agredir em nome da falsa premissa de que no Natal perdoa-se a falta de educação e a cara-de-pau.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Gripe, escola e filmes medíocres.


São 03:27 da matina e está um calor do cão. Dani montou uma cama com edredons e está dormindo aqui atrás, viando vez por outra por causa dos mosquitos que a estão jantando. Tenho que acordar cedo logo mais para comprar uns peixes para a ceia de Natal, mas, como sempre, estou tendo uma de minhas usuais crises de insônia e nada mais justo do que aproveitar esse tempo disponível para atualizar o Três por Cento com os ocorridos da semana.
Não citei isso no último post-diário porque não dei importância na hora, mas o fato é que eu voltei de São Paulo com uma espécie de gripe (ou resfriado, ou laringite, enfim). Por que estou registrando isso agora? Porque até então a tal gripinha não passou. Toda a semana passada eu fiquei me sentindo mal, com altos e baixos constantes. Da última quinta-feira até hoje a coisa piorou, estou com crises constantes de tosse seca, indisposição e um incômodo na garganta. Neste momento estou me sentindo menos mal, mas ainda estou mais pra lá do que pra cá.
Os fatos importantes a registrar são o término do ano letivo com o último COC do Mochón, com os resultados usuais (Leandro e eu passando o cerol enquanto alguns paternalistas e irresponsáveis aprovavam alunos inaptos); a confraternização dos professores – que eu perdi por ainda estar passando mal – e a festa de formatura que aconteceu ontem (22).
A verdade é que esses últimos dias não tiveram nenhum evento digno de nota, nem mesmo o encerramento das aulas pôde ser comemorado porque ainda tenho que entregar as notas e as dependências das duas escolas, o que dá aquela sensação esquisita de que o trabalho ainda não acabou. Estou pensando em enviar as notas do Alcides por e-mail para poupar tempo.
Eu acabei de assistir a um filme chamado Lunar (Moon, 2009) que recebeu nota 8,0 no IMDB. A avaliação só vem corroborar o fato de que os americanos se deslumbram com muita facilidade visto que o filme é apenas médio, tanto que nem me darei ao trabalho de escrever uma resenha. Não chegou a me dar sensação de tempo perdido, a história é até criativa, apenas foi mal executada. Lamentável, podia ter caído nas mãos de um diretor oriental.
Encerro por aqui, vou deitar lá no acampamento da Dani e ver se consigo descansar ao menos algumas horas porque logo mais o dia será cheio. Nesse Natal faremos uma nova tentativa de uma ceia em família, coisa que NUNCA deu certo aqui em casa porque sempre acontece alguma merda. Veremos se neste ano a coisa termina bem.

sábado, 19 de dezembro de 2009

A aula no escuro.

O ideal é que eu escreva este post o mais rapidamente possível. Por quê? Porque acaba de faltar luz, estou digitando no breu, iluminado apenas pela luz que vem do monitor do notebook. Estou no sofá, à direita, Danielle está na mesa dando aula a três jovens alunos que farão a prova para o Colégio Pedro II neste próximo domingo. Para que a situação se completasse de maneira perfeita, só se eu conseguisse publicar esse texto através da conexão do próprio notebook, o que não será possível porque essa droga de modem que o Estado nos deu não está conectando. Pena.
O interessante desta esdrúxula situação, é que as crianças continuam estudando, como se nada houvesse acontecido. Danielle está se esforçando para ler à luz das duas velas que iluminam a mesa, dando dicas para as redações, comentando sobre o alinhamento dos parágrafos, a separação das sílabas, o uso de argumentos coerentes. No escuro.
Esses meninos tão esforçados e inteligentes provavelmente serão aprovados no concurso, porque estão estudando, ainda que seja no escuro. Eles riem, a situação para eles é divertida. Se fosse eu, menino, sozinho na casa dos outros, estaria apavorado (Deus, como eu era uma criança tapada). A alegria e o bom astral da aula contagiam meu espírito (a mãe de um dos meninos acaba de chegar, provavelmente preocupada. Bobagem, o jovem está radiante, certamente nunca estudara redação iluminado apenas por velas). A tecnologia, a eletricidade, parecem tão inúteis e dispensáveis neste momento.
O modem não conecta. Terei mesmo de esperar a luz voltar para publicar no blog pelo meu computador. A mãe de um dos alunos está na sala, todos conversam sobre as expectativas do concurso, ninguém parece ligar para a falta de luz, apenas eu, tão dependente das bugigangas movidas a eletricidade. Quando expirar a bateria do notebook (neste momento restam 51 minutos) deitarei no sofá com minha cara de bunda até a energia que move meus vícios volte às tomadas.
A mãe do aluno sentou-se, a aula continua. Tão desnecessária a luz elétrica. “- Esse parágrafo está curto em relação aos outros, vamos melhorar...”, Dani diz. Curiosamente, o tema da redação envolve as vantagens dos livros sobre a televisão e o computador, como eles estimulam a criatividade. Lembro-me que, quando criança, eram comuns os blackouts, naquele momento, a garotada saia para a rua e inventávamos brincadeiras e peraltices. Esses momentos são algumas das melhores lembranças que tenho da minha infância. A tecnologia era tão dispensável.
Vou encerrar o post antes que a luz volte, antes que acabe a bateria. A aula dos meninos também já está acabando. Não haverá saída para mim: terminado este post, correrei para a casa da minha mãe, onde há um telefone convencional, e ligarei para a Light, exigindo a volta daquilo que um dia eu desprezei, porque não fazia falta. As coisas eram mais simples, e a felicidade, mais fácil.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Antes do último Conselho, alguma paz.

Hoje de madrugada fiquei até 2 da matina fechando todas as pendengas do Mochón. No Alcides, o martelo foi batido ontem, mission accomplished. Neste momento o relógio marca exatamente 15:00 (a hora certa não bate com a hora do post, sabe-se lá o porquê) e eu não tenho nada para fazer. Compreende o peso desta frase para uma pessoa como eu? Não há mais o que fazer. É claro que ainda será preciso elaborar as taliscas, aquelas tripinhas com as notas e faltas, mas isso é apenas uma questão de CTRL+C/CTRL+V.
Num ano difícil como este, olhar para o computador e não sentir aquele peso de que ainda há tarefas pendentes é um alívio. Para o dia de hoje, restam apenas o Conselho do 3º ano do Mochón e a confraternização do Marechal Alcides. Só não tenho certeza de onde vou enfiar minha malhação no meio disso, pretendo sair do Mochón diretamente para a academia, e de lá para o salão na Guilherme.
Vou preparar um double egg frito para o almoço e comer em paz. Tendo disposição, talvez ainda hoje eu feche as tais taliscas e dê por absolutamente encerrado tudo o que se refere a escola neste ano.

CPTurbo fora do ar.

Demorou, mas aconteceu: o CPTurbo foi atingido por um desses grupos antipirataria e terá de mudar imediatamente de servidor. Nós do staff soubemos ontem desta terrível notícia e tivemos de finalizar nossas últimas tarefas às pressas. O Sr. CPTurbo agendou para hoje, às 22:00, a retirada do site do ar, fato que já se concretizou há algum tempo.
Isto significa que, enquanto não for resolvida esta questão da migração, que segundo nos foi informado – apenas a nós do staff – não será tão fácil quanto parece, não haverá muito a fazer, o que de certa forma me liberará algum tempo durante os próximos dias para dar atenção a outros projetos, dentre eles a atualização mais constante do Três por Cento e assistir a alguns filmes obrigatórios que estão criando teias de aranha em minha pasta.
Inspirado por minha habitual franqueza, confesso que eu não sei quanto tempo ao certo o site ficará fora do ar. Assim como negligenciamos informações aos membros em geral (a questão da denúncia de pirataria e a dificuldade de se achar outro servidor que comporte o tráfego do CPTutbo com a mesma qualidade do host atual), tenho certeza de que nós do staff também não estamos recebendo toda a informação. Isso me entristece, já que estava tão engajado como coordenador, identificando-me muito com essa função. No momento em que eu já estava me sentindo à vontade, BAM! Vem essa notícia.
A questão da disponibilidade de filmes/programas/jogos para download é o que menos importa, já que faço parte de outros sites warez. Os amigos que fiz e o trabalho noturno é o que realmente fará falta. Estamos mantendo contato via MSN e em um fórum improvisado, mas é claro que não é a mesma coisa.
Fico na expectativa de que encontrem logo um novo servidor para o fórum, e que com isso venham upgrades que melhorem ainda mais as funções do CPTurbo. Assim espero, vou procurar manter meu pessimismo habitual em modo off.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Post dos posts que não foram.

Ok, mais uma vez o blog fica duas semanas sem atualização, mas explica-se: dezembro começou com a corda toda. Somados aos já conhecidos estresses escolares de fim de ano (“- professor, e a minha nota?”, “- Eu entreguei o trabalho sim!”, “- Pô, o que o senhor pode fazer por mim?”, etc) vieram dias e dias de distúrbios do sono. Houve vários dias em que não dormi e, consequentemente, não fui à academia, o que me deixou muito chateado.
A semana do meu aniversário, a primeira de dezembro, foi uma das mais agitadas, neste ano todo mundo resolveu fazer surpresa para mim (talvez para compensar todos os outros anos em que nunca tive nada! :P)
Já esta semana foi marcada por minha visita a São Paulo, de onde voltei hoje à noite. Há muito o que escrever sobre ambas as coisas, mas não tenho disposição alguma hoje, isso ficará para amanhã.
Fico triste quando o blog fica largado deste jeito, mas a verdade é que, para mantê-lo vivo, eu estou aprendendo a ser menos sistemático, o que está servindo como lição para muitas outras coisas na minha vida. Há alguns anos atrás eu já estaria pensando em abandonar o projeto (Ah, não escrevi duas semanas... melhor deixar para lá). Hoje, porém, vejo como a vida não pode ser sistematizada, o tempo parece esticar e encolher, trapaceando-nos no momento em que iríamos começar uma empreitada. Dessa forma, assim como na academia, não será porque fiquei inativo num momento não-previsto que vou largar tudo de mão. Isso é pensamento de gente pobre e ordinária, envergonho-me ao lembrar que já pensei assim.
Hoje pretendo acordar mais cedo e preparar as provas de recuperação do Alcides, para serem aplicadas à noite. Para isso preciso dormir cedo e acordar cedo, tarefa que tem sido difícil para mim. À noite, com tudo resolvido, pretendo sentar-me ao micro para escrever uns posts decentes, se o tempo não me der outra rasteira.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Na reta final!

Última semana de aula dada, começa a semana de provas. O cheiro de sombra e água fresca (cheiro de sombra SIM, abençoada seja a sinestesia) já invade minhas narinas. Enquanto isso, vamos ao brevíssimo resumo de uma semana sem graça.

23 e 24 – Últimas aulas no Mochón, marcadas pela excelente apresentação do trabalho de literatura bimestral (talvez uma das melhores já feitas na escola) da turma 3008. É isso aí, o povo não precisa de Bolsa-Família, precisa de Graciliano Ramos!



25 a 28 – Últimas aulas no Marechal Alcides, sem grandes acontecimentos.

29 – Aniversário de 30 anos da Academia Saúde na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel. Madrugada de cerveja gelada, aperitivos e muito samba no camarote da presidência. Registre-se que faltou luz no meio da madrugada, Dani e eu vivemos a aventura de sair à noite no meio da favela no breu total. Teeeeeenso!



30 – Preciso dizer? Ressaaaaaaca do dia anterior. Única tarefa concreta realizada durante o dia foi a confecção das provas de 4º BIM do Marechal Alcides, já entregues.

É isso, dezembro começando, tambores rufando pelo fim do ano letivo. Quem acompanha o blog sabe o quanto este ano tem sido difícil para os professores, todos nós merecemos umas férias e algo mais.

sábado, 28 de novembro de 2009

Resident Evil 5

A sequência do aclamado survival horror da Capcom traz boa jogabilidade e gráficos lindíssimos, mas o enredo decepciona e personagens perdem o carisma.

Dificílimo esquecer o encontro com o primeiro zumbi. Refugiado na enorme mansão, viramos à direita num corredor e encontramos um sujeito de carne putrefata devorando um cadáver. A figura olha para trás, por cima do ombro, e encara-nos nos olhos, a boca suja de sangue. A imagem é de um realismo nunca antes visto num videogame, choca e fascina ao mesmo tempo. O ser se levanta e caminha lentamente em nossa direção. Quando descobrimos que o tiro deve ser dado na cabeça, já se foi a pouca munição que tínhamos. E há mais deles, o que fazer então? Fugir, desviar, economizar o máximo possível de balas. Essa tensão contínua, o desespero de se ver sem munição e a impossibilidade de salvar o jogo a qualquer momento (era preciso usar as firas de tinta, que eram encontradas em pouquíssima quantidade) fez de Resident Evil uma das experiências mais aterrorizantes, intensas e emocionantes da história do videogame.
A sequência, Resident Evil 2, trouxe gráficos aprimorados, uma dificuldade balanceada e a mesma dose de tensão. O último lançamento para o PSOne (na época chamado apenas de Playstation), foi Resident Evil 3, mais generoso na quantidade de munição e com história mais modesta. Destaque apenas para o monstro Nêmesis, que inferniza a vida do jogador durante todo o game. Resident Evil - Code Verônica, para Dreamcast, já anunciava o futuro da franquia: mais munição, mais zumbis, menor dificuldade. Apesar disso, este é o episódio que tem um dos melhores enredos, senão o melhor, de toda a série.
Resident Evil 4 chegou para o PS2 despertando amor e ódio nos fãs da série, pelas profundas mudanças no enredo e, principalmente, nos zumbis, que não eram mais zumbis, mas Ganados, aldeões enfurecidos de alguma pequena cidade espanhola. O jogo também troca os puzzles pela carnificina, eliminando, inclusive, a necessidade das fitas de tinta para salvar. Ganhou-se em ação, perdeu-se em suspense.
Resident Evil 5 vem consolidar esta nova tendência da franquia. Cheguei ao fim do game ontem, esperei 24h para passar o calor do momento e agora lhes ofereço esta singela resenha.
A história do game se passa na África, onde Chris Redfield e
Sheva Alomar, membros de uma organização que combate o terrorismo e o tráfico de bio-armas, investigarão uma possível negociação de BOWs (Bio Organic Weapons). Naturalmente, o enredo evoluirá para a já conhecida situação de “temos de salvar o mundo”.
Mais uma vez os zumbis são deixados de lado: neste game eu tive de trucidar uma comunidade inteira de majinis (espírito maligno, nos dialetos africanos), pessoas que foram contaminadas com um parasita chamado Las Plagas que é enfiado goela abaixo na pobre vítima. Pouco lembram zumbis, exceto por alguns que tem algumas partes escamadas da pele ou os lábios faltando. Ao explodir suas cabeças com a escopeta, pode-se ver o pobre parasita Las Plagas agonizando, pouco antes do corpo se liquefazer e desaparecer (recurso para poupar pixels?).
Os inimigos que não são majinis são, na maioria, bosses ou sub-bosses. Tirando o Executor com seu machado descomunal, posso afirmar sem medo de ser injusto que essa é a edição do jogo com os chefes de fase menos assustadores e criativos. Acredite, temos até monstro-caranguejo. Não sei o que houve com a equipe criativa da Capcom, este quesito deixou muito a desejar: até o último boss não vemos nenhuma criatura realmente cativante, que desperte medo ou asco. São apenas alvos diferentes para meter bala e pronto.
E por falar em bala, o arsenal clássico foi mantido, da simples pistola à devastadora Magnum. A novidade é a compra de upgrades que pode ser feita praticamente a qualquer momento no jogo. Mas não se engane: não é possível fazer todos os upgrades de todas as armas, a não ser que você fique jogando várias vezes fases anteriores para fazer dinheiro, o que é um saco. Aliás, quem teve essa maldita idéia de introduzir gold em Resident Evil? Tudo bem que a série descambou para a ação frenética mas nunca, nem em um milhão de anos, eu me imaginaria farmando gold em Resident Evil.
O manuseio das armas mudou muito para se adaptar a essa nova realidade do game: no PC, usa-se o mouse para mirar como nos shooters tradicionais. O inventário possui apenas 9 posições, não expansíveis, então prepare-se para pensar muito bem no armamento que irá levar porque o inventário ficará full várias vezes por fase, obrigando-o a se desfazer de itens preciosos como herbs. Na verdade, nenhum item é tão precioso assim, já que os Spray Aids, tão raros e valiosos em Resident Evil 1 e 2, aqui são vendidos no shop pela bagatela de 1000g cada, ou seja, esqueça a tensão causada pela falta de medicamentos, em Resident Evil 5 eles não faltarão. Acabou a munição? Entre na fase, quebre o caixote e pegue a munição. Salve o jogo, reinicie a fase e pegue de novo a munição. Reputa esse processo quantas vezes quiser (também funciona com gold e pedras preciosas). Enfim, não há dificuldade no que diz respeito aos itens, a Capcom foi muito generosa conosco, generosa até demais, para ser franco.
Os gráficos sim, esses são lindíssimos. Confesso que fiquei de boca aberta em várias partes do game. Meu Pentium Quadcore 2,88Ghz e minha Radeon HD 3870OC chegaram a chorar em certas partes (o frame rate caiu para 25fps na parte em que vem o caminhão desgovernado, na ponte). Os movimentos dos personagens e inimigos fluem bem e são muito naturais. As cut-scenes também são caprichadíssimas; ainda bem que há um recurso no menu para revê-las quando quisermos. O som não fica atrás, joguei num sistema 5.1 e fui surpreendido várias vezes com portas se arrebentando atrás de mim, inimigos gritando nas laterais e efeitos surround muito realistas. Tecnicamente, não há máculas no game. É sem dúvida um dos jogos mais bonitos do ano.
O enredo... bem, aí está, na opinião deste gamer, o ponto mais fraco do jogo. A história não guarda surpresas, já com duas horas de jogo é possível prever tudo o que virá pela frente. O suspense e a sensação de “o que está havendo?” dos originais foram substituídos por um enredo linear parecidíssimo com o desses filmes de orçamento medíocre que vêm sendo lançados nos últimos anos. É um pudim de clichês: temos o lacaio do vilão, irônico e irritante, que se transformará, obviamente, num subchefe; a antiga aliada que é controlada contra sua vontade para atacar os heróis; a vilã gostosa e totalmente bitch que naturalmente será traída e terá uma morte horrenda; e para completar, o mesmo velho final boss, com suas inúmeras e irritantes formas, que morrerá numa fantástica explosão pirotécnica dentro de um vulcão (?!). A história envolve, além dos já conhecidos T-virus, P-virus e o Veronica vírus, o tal parasita Las Plagas e o asqueroso virus Uroborus, que forma uma massa de piche colada ao corpo deformado do hospedeiro. Parece assustador, mas não é.
A relação andrógena entre Chris, Jill e Sheva também irrita. Uma gota de romance e malícia cairia bem, já que esse é um elemento essencial do estilo de filmes B dos anos 50, no qual a série é baseada. Todos são tão amigos que, em certo ponto, parece que vão dar as mãos e cantar ciranda-cirandinha. Wesker, que foi promovido de simples traidor no primeiro game a supervilão com poderes sobre-humanos a partir de Code Veronica, é o único personagem que mantém algum carisma, ainda que não seja arrebatador. Espere, durante todo o game, uma pá de frases prontas: “- Há algo de estranho nisso”, “- O que isto está fazendo aqui?”, “- Ele é louco! Não podemos permitir que faça isso!”, “- Temos de detê-lo antes que seja tarde!”, e por aí vai.
É claro que não se pode pedir muito do enredo de um jogo de videogame, mas vamos lá... isso é Resident Evil! Onde estão os sustos e o clima soturno? Esta edição do jogo é ambientada, na maior parte do tempo, em ambientes abertos e bem iluminados, que não causam tensão ou medo. Durante os capítulos 3 e 4, sobretudo no 4, tive a nítida impressão de que estava jogando Tomb Raider. Só faltou colocar um shortinho na Sheva e as pistolas presas às coxas. Querer variar o ambiente é louvável, mas alternar entre favelas africanas, pântanos, cidades antigas e instalações de alta tecnologia em poucas horas de jogo soa inverossímil e artificial.
Resident Evil 5 não é um jogo ruim, tem ótimos gráficos, excelente jogabilidade e ação do início ao fim. Se fosse um game desvinculado da franquia de zumbis, até poderia ser considerado um excelente jogo, mas o que ocorre aqui é uma subversão dos elementos que consagraram a franquia. Não há mais puzzles ou suspense. Os fãs da série, como eu, irão se decepcionar, certamente; já os novos jogadores terão mais um game como tantos outros que têm sido produzidos ultimamente: atire, corra, atire, execute e, enfim, pense.

Por Marcel Costa.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Post do sono galopante

Já estava quase desligando o micro (estou caindo de sono) quando lembrei que hoje faz exatamente uma semana que não posto no Três por Cento. Então, para manter a regularidade do blog, vamos nessa! (humm... Meninas Super-Poderosas)
Essa semana foi bem catimbada. Dani vem tendo enxaquecas terríveis desde terça-feira (chegou a ir para a emergência do Pró-Saúde) e tem andado meio cabisbaixa. Hoje ela já estava melhor, mas não 100%. Para piorar, tivemos de preparar nossas provas do Mochón às pressas, já que o prazo venceu na quinta-feira passada.
Um lance bacana que sucedeu na quarta foi a preparação da feijoada junto com os alunos da Dani, uma molecada muito maneira do 1º ano que passou a tarde aqui cozinhando e ouvindo música. Até agora não sabemos como foi o projeto da quinta (quando a feijoada foi servida), já que a Dani ainda estava com dores de cabaça lancinantes, mas ela estará com os alunos na terça para saber das novidades.
Voltei a jogar meu Resident Evil 5 com mais regularidade: aquele estresse irracional sobre o qual comentei neste tópico está perdendo as forças e estou vencendo a batalha. Apesar do jogo não dar medo nenhum (reafirmo que é muito inferior às edições 1,2 e 3 do PSOne), pelo menos é divertido explodir a cabeças dos zumbis afrodescentes.
Hoje até que o dia foi bacana, apesar de ter sido essencialmente de trabalho. Passei cedo na peixaria e comprei camarões e peixe fresco. Pus umas cervejinhas no freezer e passamos a noite petiscando camarão na churrasqueira com nossa excelentíssima Skoll gelada. Para a janta preparei aquela tainha assada no forno temperada com alho e ervas.
O ano está acabando e os planos para as férias efervescendo. Ainda há muito o que escrever aqui no Blog sobre essa semana que passou - estou com duas ótimas idéias de post pendentes -, mas esses dias realmente foram uma complicação. Mais uma semana de aula, uma de provas, outra de recuperação e... FÉRIAS! Senhor, mal posso esperar.



terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ilha Grande, Ipanema e dever cumprido.

Não há dúvida de que 4 dias em Ilha Grande entorpecem os sentidos, vide o tempo que demorei para escrever esta postagem. Para ser bem franco, ainda agora estou sob os efeitos relaxantes da viagem somados a um excelentíssimo domingo de sol em Ipanema. Neste último sábado um professor lá do Marechal Alcides – sua matéria é Artes, mas não me lembro de seu nome –, afirmou que morar em São Paulo é melhor do que morar no Rio, por razões financeiras. O sujeito, certamente, está com seriíssimos problemas pessoais, existenciais, sexuais, ou todos esses de uma vez, porque dinheiro nenhum compra a felicidade e o êxtase de se curtir as maravilhas naturais de nosso estado. Desejo, assim que estiver um pouco mais disposto, esmiuçar a estada em Ilha Grande, mas por enquanto vai só o resumo da semana.

06 a 09 – Ilha Grande, onde Papai do Céu provavelmente passa as férias com a família e os amigos.
18 a 20 – Semaninha comum de trabalho, com as energias renovadas e os mesmos problemas de sempre.
21 – Sábado letivo no Marechal Alcides, com o número recorde de 3 alunos. Dani e eu aproveitamos o resto do dia para passar no Shopping e torrar uma grana em acessórios para praia.
22 – Dia nota 1000 em Ipanema, calor de 38 graus, Bohemia gelada e água refrescante. Depois, 13 horas do sono mais bem dormido desse ano, lá fora, uma tempestade daquelas.

A semana começa com o encerramento das últimas matérias do ano letivo. Pela primeira vez em muito tempo consegui fechar o conteúdo com minhas turmas de 3º ano, dever cumprido a ferro e fogo. É o canto do cisne do professor da noite, porque ano que vem volto para o tuno da manhã. Mas essa já é outra história para um novo post.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Descanso merecido

Neste fim de semana não teremos postagem, pois vou molhar meu corpo cansado e maltratado (pelo Sr. Sérgio Cabral e Cia) nas águas paradisíacas de Ilha Grande, em Angra dos Reis.
Estarei de volta na segunda, quando certamente também NÃO escreverei aqui no blog porque dormirei à beça. Assim que o corpo voltar ao estado normal – espero exorcizar todos os demônios estaduais que assombram minha alma –, tenham certeza de que farei aqui uma belíssima descrição da viagem (contrariando a vontade dos senhores, faço votos de que não se torne mais uma de minhas crônicas hilárias descrevendo alguma desventura).
No mais, desejem-me boa viagem e que Papai do Céu mantenha as torneirinhas bem fechadas!


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Taliscas vs Zumbis

Apesar deste post citar pela enésima vez o sentimento de estresse e revolta por ter de gastar horas e horas de tempo livre em trabalho burocrático da escola, quero registrar um fenômeno interessante e nada agradável. Caso algum leitor se identifique com o fato, por favor, não deixe de comentar, assim saberei que não tenho de enfiar um Diazepam goela abaixo.
Hoje terminei de lançar as notas de todos os alunos, de ambas as escolas. Elaborei e imprimi as taliscas – aquelas tirinhas compridas que contém número, nota e faltas de cada aluno, de todas as turmas. Também atualizei meu diário eletrônico, onde mantenho o controle de frequência de todas as minhas criaturinhas. Sentindo que ainda havia alguma coisa para fazer, revisei os conteúdos das aulas desta semana e planejei as que ainda não estavam prontas. Então olhei para o micro e percebi que não havia mais trabalho a ser feito.
“- Ótimo”, pensei. Poderia enfim voltar ao meu Resident Evil 5 e estraçalhar os malditos zumbis. Mas não voltei. Por quê? Fiquei estático diante do micro, os músculos tensos, um cansaço na alma. Estranhamente, mesmo tendo a absoluta certeza de que todo o trabalho estava feito, meu subconsciente ainda procurava por alguma coisa para acertar, atualizar, registrar, conferir, copiar, digitar, contabilizar. Não havia mais o que fazer, mas era como se meu corpo (ou a mente?) estivesse viciado no trabalho sistemático e repetitivo da escola, como se não aceitasse que tudo estava feito, refeito e conferido.
Fiquei assustado. Comentei o fato com a Dani e ela falou que eu estava ficando piroca. Sábias palavras! Que isso? O trabalho acabou, por que diabos continuo pensando nele? Tenho uma teoria. Elaboração de diários, controle de frequência, lançamento de notas, tudo isso faz parte da pequeníssima parcela que compõe a única parte desagradável do trabalho do docente. O professor é criação, não repetição. É movimento, não estagnação. É euforia, não depressão. Essa porção de nosso trabalho é contraditória, é conflitante com tudo aquilo que nós somos, não faz parte de nossa natureza. Exatamente por isso, quando essa pequena parcela de trabalho inútil e sistemático abocanha uma grande quantidade de nossa energia, o caos toma conta do nosso espírito e tudo parece confuso.
Neste momento, enquanto escrevo estas linhas, ainda estou tomado por essa confusão. Está melhorando, é verdade, mas ainda estou atônito. Os diários, as notas e as taliscas é veneno que demora a sair da corrente sanguínea, que insiste em resistir aos antídotos – uísque, chope, cinema e Resident Evil.
No próximo ano o governo prometeu acabar com esse inferno com a pauta eletrônica, que consistirá no controle de frequência e notas dos alunos diretamente em micros dentro das salas de aula. Mesmo sabendo que isso acabará por controlar também a frequência dos professores, não posso negar que sinto certo alívio em saber que, possivelmente, não terei de me preocupar mais com essa mazela que descaracteriza tanto o trabalho do professor. Ainda restarão as pilhas de provas para correção, mas qualquer trabalho a menos já ajuda. Sei que já estou meio grande para acreditar em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, o que corresponde a acreditar que o Estado fará algo prático para facilitar as nossas vidas, mas vou vestir o manto da ingenuidade e conservar um tiquinho de esperança.
Encerro por aqui, já está tarde e logo mais recomeça a batalha. A outra guerra, dentro da minha cabeça, continua. De um lado, calhamaços de anotações armados com taliscas afiadas e vomitando notas e faltas; do outro, Chris Redfield, armado com sua Magnum, procura espaço para massacrar seus zumbis. Em breve, notícias do front.

X

domingo, 1 de novembro de 2009

Resumão de Halloween: 3 semanas em um tópico.

Os queridos leitores que acompanham as peripécias nada empolgantes deste prosaico Marcel devem estar sentido falta dos posts-diário que costumo escrever semanalmente. Tivemos duas resenhas de filmes, um artigo sobre cinema e nada sobre os fatos pouco interessantes que tornam minha vida tão singular e maravilhosa. Os motivos que levaram a tamanho atraso (faz quase 3 semanas que não abro o coração nem os rins) são os de sempre: trabalho burocrático da escola e... tchan-tchan-tchan-tchan! Mais trabalho burocrático da escola. Mas, antes tarde do que nunca, aproveitemos esta refrescante madrugada de Halloween para retomar os fatos mais relevantes da segunda quinzena de outubro.

14~18 – Essa semana foi marcada por vários dias sem aula. Além da já citada camaroada na brasa e da visita ao endocrinologista do dia 13 (discutidos em tópico da mesma data), no dia 15, excelentíssimo dia dos professores, a patroa e eu fomos ao Barra Shopping e metemos o pé na jaca. Comemos comida japonesa, tomamos aquele chope e fechamos o dia com a última sessão de Bastardos Inglórios, que rendeu minha crítica discutida no tópico do dia 18. O resto do fim de semana foi despendido em descanso, marasmo e no assassinato do restante de nossa garrafa de Black Label, bálsamo indispensável aos professores de Português.

19~26 – Depois de uma semana agradável de camarão e filmes cult, claro que tinham de vir 7 dias de muito trabalho e punhetação.Tanto o Mochón quanto o Alcides pediram os diários de todas as turmas atualizados, o que resultou numa trabalheira homérica, drenando todo e qualquer tempo livre meu e da Dani. Além disso, havia provas e mais provas para correção, de ambas as escolas e, consequentemente, mais notas a serem lançadas. O trabalho foi tanto que varou o fim de semana e só terminou no final do feriado de segunda-feira (26), dia do Servidor, que para nós não passou de expediente normal de trabalho. Ah, eu já ia me esquecendo, o sábado passado (24) foi letivo, tivemos de cumprir horário na escola de 7 da manhã a 1 da tarde. Houve uma mostra de dança que até foi interessante, mas não serei cínico de dizer que não preferia ter ficado em casa.
27~31 – Diários entregues na terça-feira, parecia que o pesadelo havia terminado. Mas não. E lá vem... MAIS UMA DO SERGINHO! Os senhores acreditam que ele resolveu, no último bimestre, fechar turmas com poucos alunos? Isso aí, eu perdi uma turma no Mochón que, graças a Deus, era GLP. Estou com pena dos professores que nesta altura do campeonato terão de procurar outras escolas para completar a sua carga horária. E é bom que eu tenha mesmo bastante pena, porque logo, logo, eu posso me tornar um deles, já que no Alcides há turmas com pouquíssimos alunos.
O Conselho de Classe do Mochón foi na sexta-feira (30) e contou com uma bonita homenagem dos alunos aos professores, gravada em vídeo, além de um bufê completíssimo de café da manhã (que, na verdade, foi servido o dia todo). O COC em si foi a chatice de sempre.
Hoje, depois de ter dormido muito pouco, ainda tive disposição de ir à academia e cumprir mais um sábado letivo de reposição de aulas no Alcides – resultado do maldito surto de gripe suína que fechou as escolas por 15 dias em agosto. Passaram um filme desinteressantíssimo para os alunos (Ele não está tão a fim de você), que fez metade dos discentes e docentes caírem no sono. Cheguei estressado em casa, mas Dani, com suas ancas generosas e sorriso traiçoeiro, tratou de trazer à Terra o paraíso e o sábado ficou lindo de novo. Minha irmã fez uma festinha de Halloween para a Bruna, que ficou feliz como pinto no lixo, incluindo um inédito bolo-cemitério. Fechamos a noite assistindo a Distrito 9, filmeco muito mais ou menos que ainda estou decidindo se renderá ou não uma crítica, já que meu tempo anda raro e cada vez mais precioso.

Engoli o último gole da Skol gelada e agora estou aqui, encerrando este extenso post-diário e digitando o seguinte ponto final.

domingo, 25 de outubro de 2009

Respeitar o cinema clássico, para entender o cinema hoje.

“Em tempos de arte descartável, modismos e sucessos fugazes não é surpresa que o cinema clássico seja deixado de lado, mesmo sendo inesgotável fonte de inspiração para os diretores de hoje, que bebem de sua água e não lhe prestam o justo tributo.”

É inegável que a cultura pop está enraizada em nossas vidas há muitos anos, os que nasceram a partir da década de 90 do lado oeste do Meridiano de Greenwich viveram cada minuto de sua existência imersos no oceano pop, mesmo que não se dêem conta disso. A premissa básica do pop é a efemeridade: a pipoca (em Inglês popcorn, iguaria que dá nome à tendência) voa apenas uma fração de segundo, quando explode, apenas para cair em seguida junto a centenas de outras para nunca mais voar novamente. Assim é a música pop, a bebida pop e a comida pop: fazem um extraordinário sucesso para, pouco tempo depois, serem descartadas e substituídas por outras, a fim de alimentar um público sempre sedento por novidades.
Essa supervalorização do presente em detrimento de tudo de bom que já foi feito, entre outros males, é adotada amplamente por novos críticos que desconhecem ou desprezam o cinema clássico, fonte de inspiração para tudo o que é produzido hoje. Despreparados, apontam como inovações elementos criados na década de 50 por Franklin J. Schaffner, como roteiros originais releituras pobres dos grandes épicos de William Wyler, como fotografia soberba meras repetições do que Orson Welles fez em 1941 com Cidadão Kane.
Basta digitar a palavra “crítica” mais o nome de um filme qualquer no Google para ser bombardeado por um sem-número de blogs e sites pessoais de pretensos críticos que sequer sabem quem foi Stanley Kubrick. Preocupante é saber que muitos são levados por essas idéias fátuas e improfícuas, acreditando piamente que Eu Sou a Lenda é a adaptação definitiva do livro homônimo de Richard Matheson, sem saber da existência de Last Man on Earth de Ubaldo Ragona, primorosa adaptação datada de 1964, ou The Omega Man (1971) de Boris Sagal, com Charlton Heston no papel do Dr. Robert Neville. Não se trata de saber qual é a melhor das adaptações, e sim do leitor ter a informação correta (mercadoria valiosíssima na Internet) de que tais versões existem. É no mínimo irresponsável que alguém que se rotule crítico não informe tais coisas ao seu leitor, já que está negligenciando dados que são de sua obrigação pesquisar e divulgar. Se não tiver ânimo ou talento para cumprir tal compromisso, é melhor que escreva sobre Justin Timberlake ou Amy Winehouse antes que a pipoca volte ao fundo da panela.

A importância de se conhecer os clássicos vai além de se entender sua influência no cinema contemporâneo. Os filmes, assim como as obras literárias, registram com imparcialidade – ainda que essa na maioria dos casos seja involuntária – os valores e os hábitos da geração de sua época. Assistindo A Marca da Maldade de Orson Welles entende-se que já naquele tempo havia a rivalidade entre americanos e mexicanos e a corrupção policial, mas o mais interessante é observar como os punks contratados pelo detetive corrupto Hank Quinlan (Welles) drogam Susan Vargas (Janet Leigh): eles fumam maconha e assopram na cara da pobrezinha! Seis delinqüentes puxando seus baseados e afogando a mocinha indefesa na nuvem alucinógena. O espectador de hoje, acostumado às atrocidades de Jogos Mortais e O Albergue, certamente estranharia (por que não enfiam logo o cigarro na boca da coitada ou metem-lhe uma injeção de heroína?). O caso é que na década de 50 o público não estava preparado para violência explícita nas telas, muito menos tortura, daí a solução bem-comportada de Welles. Saltando para os anos 80, Indiana Jones e o Templo da Perdição é quase um hino ao machismo boçal daquela década. A mocinha Willie Scott (Kate Capshaw) talvez tenha sido uma das primeiras mulheres-samambaia da história do cinema: sua sensualidade, sempre ressaltada por trajes mínimos (para o padrão da época), é sua única virtude. Fora isso, é imbecilizada, fragilizada e humilhada durante toda a exibição da fita. É arrastada de um lado para o outro, jogada na sujeira, quase obrigada a comer uma sopa de olhos e enfiada no meio de toda sorte de bichos asquerosos, numa clara prévia dos torture porns. Havia naquele tempo certa tolerância com idéias machistas e racistas, naturalmente, esse filme não passaria despercebido hoje sem sofrer uma crítica feroz.

É necessário prestar tributo ao cinema clássico por todas as grandes idéias que são transformadas e recicladas até hoje. Não se trata de saudosismo: reinventar e atualizar o que já foi feito é algo bem-vindo e necessário, mas não seria justo esquecer dos pioneiros das grandes sacadas do cinema. Quando se fala de inteligência artificial e do embate homem versus máquina, por exemplo, logo vêm à cabeça filmes como O Exterminador do Futuro, Eu, Robô e Matrix. Entretanto, os cinéfilos mais atentos se lembrarão de quatro nomes: Roy, Pris, Zhora e Leon, respectivamente Rutger Hauer, Daryl Hanna (sim, ela já era muito perigosa antes de Kill Bill), Joanna Cassidy e Brion James: tratam-se dos replicantes renegados de Blade Runner (1982) que, ao contrário dos seus primos do século XXI que insistem em destruir a humanidade por motivos vagos e elusivos, desejam apenas continuar vivos.

Voltando aos anos 70, não se pode deixar de citar Ash (Iam Holm), o insensível andróide de Alien, que por pouco não mata Ripley (Sigourney Weaver) de maneira muito criativa: enfiando-lhe uma revista enrolada goela abaixo. Sua motivação: garantir que o espécime alien chegaria à Terra. Na década anterior, em 2001: Uma Odisséia no Espaço, o mais memorável antagonista cibernético: HAL 9000 (dublado pelo lacônico Douglas Rain), o computador da nave S.S. Discovery que, tomado por convicções pessoais, decide exterminar toda a tripulação para garantir o sucesso da missão. Apesar de ser uma entidade ameaçadora e de personalidade complexa, HAL é representado no filme apenas por uma lâmpada vermelha que, ainda assim, mete mais medo que as garras afiadas e armas futurísticas de Megatron.

Todos os grandes avanços tecnológicos do cinema começaram com os clássicos, desde a revolução do cinema falado até os efeitos especiais. Difícil superar o assombro causado por inovações como os walkers imperiais de O Império Contra-Ataca, que levaram a animação em stop motion a um novo patamar, com modelos realísticos, fundos complexos e ação simultânea de vários elementos no cenário – sem mencionar a criação das armas elegantes para tempos mais civilizados, ou apenas sabres de luz para os que não tiveram a oportunidade de conhecer o verdadeiro Ben Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness) no Episódio IV. Um ano depois, em 1978, pudemos ver o insuperável Christopher Reeve maravilhar-nos com as mais realísticas cenas de vôo já vistas em Superman. Até hoje é possível assistir a esse clássico sem a sensação outdate tão comum quando se vê filmes antigos: a produção é caprichadíssima e os efeitos especiais continuam convincentes, mais do que muitos filmes novos baseados em efeitos de computação gráfica de quinta categoria.

Desconhecer os grandes clássicos, para os verdadeiros amantes do cinema, significa apreciar a obra de arte pela metade. Filmes extraordinários como O Lutador de Darren Aronofsky serão ainda mais admirados se o espectador conhecer o fantástico Touro Indomável (1980) de Martin Scorsese. O filme clássico não anula ou desmerece o filme novo, pelo contrário, dá a bagagem necessária para se estabelecer uma comparação saudável, confrontando os valores e os temas discutidos nesta e naquela época, destacando as particularidades que cada ator conferiu a seu personagem. Robert De Niro e Mickey Rourke interpretam lutadores de boxe, mas Jake La Motta e Randy 'The Ram' Robinson são bem diferentes, enxergar as peculiaridades de cada um desses memoráveis lutadores faz parte da beleza que é apreciar cinema.

Por fim, conhecer os filmes clássicos e entender sua importância não tem a ver com desprezar os filmes novos. Dizer que “não se fazem filmes bons como antigamente” é besteira, sempre houve poucos filmes bons e muitos filmes ruins em todas as épocas e sempre será assim, como em todas as manifestações artísticas. Deve-se, sim, fugir da armadilha do pop, não deixar que os velhos e novos clássicos, que certamente virão, sejam desprezados como se nunca tivessem existido, como se tudo o que está sendo produzido nos estúdios tivesse surgido magicamente, do nada. Aceitar tal coisa é como conceber que se dê à luz um homem de 40 anos, bem-sucedido, formado em engenharia de petróleo e com um carro importado na garagem.