sábado, 4 de julho de 2009

Como não ser um estorvo.

Não gosto desses manuais de boas maneiras. A maioria deles possui regras tão estúpidas que duvido que quem as escreveu realmente as leve a sério. Por exemplo, para um jantar com 100 convidados deve-se usar uma mesa de 12 metros, nem mais, nem menos (fonte: “Manual de boas maneiras e etiqueta”, por Maria Cândida Gonzaga). Eu fico imaginando o filho da puta (perdão, não encontrei um sinônimo erudito equivalente no manual de boas maneiras) capaz de observar: “- Que mau gosto... cem convidados e essa mesinha de onze metros”.
Prefiro o bom senso, coisa que todos certamente conhecem – mesmo que superficialmente – mas que muitos fazem questão de não praticar. O bom senso anda de mãos dadas com o senso comum, que consiste na percepção de onde terminam seus direitos e começam os do outro.
Hoje (sexta, 03) eu dormi pouco e acordei cedo. Dei uma aula particular para a Fabiana, que fará uma prova da Aeronáutica nesse domingo (esqueci o nome do cargo) e tentei dormir mais um pouco à tarde, sem sucesso. Agora à noite, morto de cansaço, fui avaliar o trabalho de literatura dos alunos do Marechal Alcides que, graças ao bom Deus, estavam a contento. Montei na bicicleta e corri para casa, na cabeça um só pensamento: ficar de cueca no meu sofá vendo Dona Beija. Mas no sofá, que só deveria ter minha linda esposa de camisola, havia uma visita. Olhei para o relógio: 21:30h. Quem diabos visita alguém a essa hora? E não foi só: a criatura trouxe consigo uma criança de 9 anos, um priminho da Danielle, no auge de sua hiperatividade. Ok, pensei, devem ter chegado cedo, já vão embora. Foram às 23:30h.
Eu me questiono se esse tipo de pessoa que visita os outros em qualquer horário, e ainda por cima sem avisar, tem consciência do desconforto que causa. Será que realmente sabe que incomoda, mas não liga? “- Xô vê, nove e trinta da noite. Vô lá na Dani, se incomodá, é só um pouquinho, quase não vou lá ‘mermo’...”. O pior é que vem para não dizer nada, ou seja, aluga seu sofá por horas a fio e você ainda é obrigado a puxar conversa. Como vai fulano? E ciclano? Ah, a filha da Beltrana casou, mas separou já, uma pena...
A inversão da situação é a parte mais esdrúxula da história: se o dono da casa (vítima) insinuar que está na hora da pessoa ir embora, passará por mal educado. “- Víxi! Fui na casa de Danielle e aquele marido grosso dela disse que estava com sono, pra-ti-ca-men-te me mandou embora!”. Evitei gerar essa polêmica, eu estava cansado até para isso, e fiquei zanzando pela casa ainda uniformizado aguardando a visita se cansar para que eu finalmente pudesse ficar de cueca e ver o Jornal da Globo. Sim, o Jornal da Globo, já que perdi o penúltimo capítulo da novela porque a mulher não calava a boca nem por um segundo, e a pobre da Danielle (vítima) tentava interagir naquela conversa pouco interessante para não passar por mal educada. “- Víxi, fui na casa de Danielle e ela pra-ti-ca-men-te não me deu atenção”.
Evitamos também fazer comentários muito ríspidos sobre o menino eletrizado, que corria pela casa com minha sobrinha em trajetória irregular, passando bem perto do computador, do notebook, das minhas caixas de som surround e de algumas miudezas caras. Imagine se eu falasse do menino. “- Víxi, fui na casa de Danielle e aquele marido grosso dela ficou cheio de merda com as coisas dele, nem deixou a ‘quiança’ se divertir”.
Eu sonho com o dia em que algum altruísta investirá numa campanha publicitária pesada sobre as bases do bom senso, que passará no intervalo do Balanço Geral e da novela das oito; que virá impressa nas sacolas dos Supermercados Guanabara e nos rótulos das garrafas de Itaipava. Para o conteúdo da campanha vão minhas sugestões:

  1. Nunca visite alguém sem avisar com antecedência, de preferência no dia anterior;
  2. Se a pessoa insinuar que não está bem para lhe receber, não fique bravo nem fale mal dela. O direito de estar sozinho, ou apenas com quem se deseja, é essencial para preservar nossa beleza e saúde;
  3. Não leve consigo “visitas surpresa”, sobretudo pessoas que o visitado não conhece e crianças pequenas;
  4. Não comunique que está levando alguém consigo: pergunte se pode ou não levar a pessoa. E nada de perguntas retóricas do tipo: “- Estou levando a namorada do primo da minha vizinha, tudo bem? Ela é tão legal, você vai adorar ela, tá?”;
  5. Evite visitar alguém na hora do almoço ou do jantar, mesmo comunicando. Nos dias corridos de hoje é pouco provável que a pessoa vá dispor de mais um lugar na mesa sem que isso lhe cause algum transtorno;
  6. Se você vai passar o dia na casa da pessoa, deixe isso MUITO CLARO com antecedência. Caso contrário, trate de ir embora num horário adequado, não fique esperando a pessoa dar “pistas” como olhar o relógio e bocejar. Se chegou a esse ponto, você JÁ se tornou inconveniente;
  7. As coisas estão difíceis para todo mundo, ninguém é obrigado a ter coisas em casa para lhe oferecer. Portanto, se vai passar muito tempo na casa da pessoa, trate de levar algo para ajudar na “bóia”.

É claro que você pode discordar de tudo isso, achar um exagero, uma chatice. Mas, se não for pedir muito, dê uma revisada nos itens acima antes de pensar em nos fazer uma visita surpresa, porque em dado momento, por mais que isto vá contra nossa natureza, nós também podemos deixar de lado o bom senso.

3 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Como já isso...aff inclusive com vcs!!!! família sempre eh incoveniente ne?? Mas eu podia, afinal, tinhamos reciprocidade de sermos incovenientes pois sempre fomos "grossos e estúpidos" sinceramente!!rsrsrsrs Problema meu!! adorava nossas incoveniencias!!!!
    um bj
    amo vcs!

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  2. O que????
    AVISAR antes de ir ai na sua cas Marcel.....qual a graça nisso? a diversão é te ajudar na cozinha :D
    e ver vocÊs bocejando, e ficar puxando, mais e mais conversa :D

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  3. Você é um ewok, habitantes de Endor não precisam avisar quando vão visitar, não é de suas naturezas! ;)

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