domingo, 26 de dezembro de 2010

A Raposa, o Lobo, o Ornitorrinco, e o roubo do botão de Alerta - Capítulo IV

CRÔNICAS DO CPTURBO

A Raposa, o Lobo, o Ornitorrinco, e o roubo do botão de Alerta

Uma fábula em um prelúdio, quatro capítulos e um epílogo

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:::: CAPÍTULO IV: O Advento do Reprodutor Atômico

Assim que a luz do processador-sol não mais alcançava os guardiões, o Lobo deu duas pancadinhas no barril. O Vampiro entendeu o sinal e arrebentou o tonel com seus poderes vibratórios, livrando-se finalmente da nauseante cela. Retirou com repulsa algumas lascas viscosas do pescoço e juntou-se ao grupo, evitando a Raposa.

A descida levou algum tempo, a única iluminação do fosso era a tênue luz de algumas tochas que ardiam eternamente num fogo mágico, imersas no negrume da antiga passagem. Quando finalmente chegaram ao término da escadaria, o Ornitorrinco olhou para cima: do fundo daquela cova infernal a entrada era apenas um pequeno ponto de luz, distante muitos metros acima na superfície da terra. O ar estagnado, pesado, era difícil de respirar, o forte odor de enxofre queimava as narinas. Uma pequena passagem lateral dava para um corredor estreito, uma escavação na rocha que se estendia ainda mais para baixo. Determinados, os heróis seguiram pelo caminho escuro, no peito apenas o desejo de salvar sua floresta e seus companheiros. Eles caminhavam em fila – o corredor era estreito demais para irem lado a lado –, a Raposa ia à frente iluminando a passagem com seus olhos fluorescentes. Algum tempo depois, avistaram alguma luz: era o fim do extenso percurso. Aceleraram o passo e logo estavam fora da claustrofóbica passagem.

Os heróis viram-se num grande salão subterrâneo cujo teto era sustentado por enormes pilares de rocha. Nessas colunas, inúmeras inscrições de tempos ancestrais, indecifráveis. Nas paredes rochosas, desenhos rústicos retratavam os primeiros moderadores, que lutavam nas guerras seculares antes da formação da Grande Cidade. No fundo da câmara, uma gigantesca pira de bronze na qual ardia um fogo intenso que luzia em tons fortes de vermelho e verde. Ladeavam aquela formidável fogueira dois tronos, nos quais se acomodavam os Senhores do Abismo, as criaturas abissais que eram tema de histórias horrendas, contadas aos pequenos desde cedo para meter-lhes medo. De um lado Hades, o Príncipe das Trevas, vestido com sua armadura de placas negras, o elmo fechado adornado por chifres retorcidos e um grande tridente em punho; de outro, a criatura mais medonha que já caminhou sobre Cepetelândia: Castal, o Moderador-demônio, uma entidade de pele avermelhada e um eterno sorriso diabólico. Ele não falava: diziam as lendas que o simples som de sua voz era suficiente para banir um membro até as duas gerações seguintes. Respeitosamente, os guardiões se aproximaram, um fedor horrendo de carbono e enxofre emanava da pira. O ornitorrinco se adiantou:

- Senhores do Abismo, pedimos permissão para adentrar o Limbo !

O Moderador-demônio deu uma risada infernal, que ecoou até o fundo do cérebro dos heróis. Uma gota de sangue caiu das narinas da Raposa. O Príncipe das Trevas, fazendo apenas um pequeno movimento com a cabeça, disse:

- Sem os poderes da Grande Floresta, vocês não poderão derrotar Skyhunter. Ele já é poderoso demais.

- Não importa! – Gritou o Lobo, apaixonadamente. – Precisamos salvar nossos amigos! O Vampiro e... Cachinhos... – concluiu olhando de soslaio.

Subitamente, Castal olhou para o irmão moderador, o sorriso levemente abalado. Hades disse:

- Um momento! É hora de alimentar o Belzebu das Profundezas. Deixar Castal faminto representa perigo para toda a cidade. Escravo!

De uma passagem lateral por detrás dos tronos surgiu um homem carregando sobre o dorso, com grande dificuldade, uma enorme bandeja de prata. Ele vestia apenas trapos, a barba e o cabelo desgrenhados. Na bandeja, lindamente forrada de palha e folhas de salgueiro, uma macabra mistura de membros amputados dos corpos digitais de membros banidos e frutas da estação. O pobre homem, mesmo com seu porte atlético, usava toda sua força para carregar o pesado banquete sobre os ombros, como Atlas sustentando a Terra. Ao ver a comezaina, Castal atacou-a com as garras, dilacerando e engolindo sofregamente nacos das almas condenadas, pedaços caindo pelo chão. Logo só restou a bandeja vazia, fazendo com que o homem desse um suspiro de alívio. Hades meteu-lhe o tridente nas costelas, fazendo-o ganir de dor.

- Para fora, escravo!

Antes de sair, o homem olhou de través para os heróis que, com grande horror, puderam identificá-lo: era Chuck Norris. À saída do serviçal, o Príncipe das Trevas continuou:

- O Paladino da Verborréia, Skyhunter, construiu uma espécie de catedral no círculo mais profundo do Limbo, e lá pretende reunir um exército de banidos com suas palavras vazias e promessas de salvação. Com o controle do Botão de Alerta, ele poderá insurgir-se contra nós numa guerra santa que devastará os condados.

- Precisamos impedi-lo – disse o Homem de Costas por trás de uma coluna, com muita vergonha e remorso católico.

- Então – disse o Príncipe das Trevas – vocês terão de ser ungidos com a Substância Ban.

Os heróis se entreolharam. A Substância Ban era a força mais poderosa de Cepetelândia, um fluido prodigioso capaz de desintegrar qualquer membro problemático. Tratava-se de um elixir cuja manipulação era dominada somente pelos Moderadores. Hades levantou-se, apontou seu tridente para o Ornitorrinco e gritou:

- Pato! Pegue aquela cabaça e encha-a com a pura Substância Ban destilada por Castal.

O Ornitorrinco, meio vacilante, pegou a cabaça que estava num canto e subiu os degraus que levavam até o Moderador-demônio. O ser infernal irradiava calor violento, fazendo com que o místico mamífero suasse intensamente. O Ornitorrinco posicionou a cabaça trêmula sob as presas de Castal. De seus afiados dentes começou a gotejar a Substância Ban, um fluido esverdeado e brilhante que pouco a pouco foi enchendo o recipiente. Com seu eterno sorriso diabólico, a criatura arcana fitou o Ornitorrinco, que desviou o olhar, sabiamente. Momentos depois, a cabaça estava cheia e o apavorado Supervisor afastou-se rapidamente, unindo-se a seus companheiros. Sentando-se novamente em seu trono, Hades ordenou:

- Toma a cabaça e unge a ti e aos teus companheiros. No Limbo, vocês terão o poder da moderação, para fazer em pedaços seus inimigos.

Prontamente, o Ornitorrinco recarregou a Caneta do Supervisor com o primoroso líquido. Em seguida, ungiu os dentes pontiagudos do Vampiro, as garras do Lobo e os olhos da Raposa, concedendo-lhes o supremo poder do banimento. Ao Homem de Costas ele entregou o restante do fluido na própria cabaça, por negar-se a tocar em suas partes encantadas. Ele que ungisse a si próprio. O Príncipe das Trevas disse:

- O Limbo é uma dimensão desolada e hostil, por onde vagam as almas dos banidos. Naturalmente vocês não serão bem recebidos, já que há grande ressentimento contra todos os guardiões de Cepetelândia. Vamos abrir uma passagem para mandá-los o mais próximo possível da nefasta catedral de Skyhunter.

Hades fez um sinal para Castal que, prontamente, deu uma cusparada no chão em frente aos heróis. O esputo derreteu o piso rochoso, formando uma poça viscosa. Hades apontou seu tridente e disparou um raio contendo centenas de instruções de programação que continham as chaves de segurança da rede, conectando a poça com a dimensão do Limbo.

- Vão! – Gritou Hades.

O Ornitorrinco se adiantou, lançando-se ao viscoso portal, seguido pelo Lobo, a Raposa e o Vampiro que Treme. Quando o Homem de Costas estava para atravessar a poça, Hades disse, em tom grave:

- Livra-te da culpa! Do remorso! Não te esqueças de quem és, ou tu e todos os teus amigos pagarão pelo peso de tua consciência. Não há pecado em tua natureza, Homem de Costas, nasceste para perpetuar a gloriosa confraria de Cepetelândia!

O Homem de Costas baixou a cabeça sem nada dizer, muito tímido. Amarrou bem o cinto do sobretudo e pulou no portal para o Limbo.

Os heróis caíram de uma altura de uns três metros no árido chão do Limbo. Sobre eles, o portal circular se fechou, selando-os na dimensão dos banidos. Tudo era desolador. No solo, ressequido e rachado, não se via um único sinal de informação ou conteúdo. O céu era tomado por nuvens cinzas, não se via um pedaço de azul. Um vento constante, seco e empoeirado sibilava desoladamente. Não havia nada ali. Um destino vazio e miserável àqueles que desperdiçaram a oportunidade de viver na gloriosa Cidade Perdida. O Lobo levantou a cabeça, olhou em volta e gritou:

- Lá!

No horizonte, a leste, era possível ver a única construção daquela planície erma, uma espécie de igreja medieval erguida pelo infausto ladrão. Os heróis correram naquela direção em grande velocidade: a Substância Ban devolvera-lhes os poderes e dotou-os temporariamente com a força da moderação. Somente o Homem de Costas ia mais atrás, envergonhado de ungir-se com o licor mágico.

A poucos metros da entrada, uma grande porta dupla de madeira com detalhes em ferro, o chão se abriu em vários lugares. Dos buracos surgiram dezenas de criaturas grotescas, retorcidas, vestidas em trapos imundos, mal se podiam reconhecer nelas traços humanos. Sua pele era cinza, assim como os grandes olhos sem pálpebras ou pupilas. Os guardiões reconheciam as terríveis entidades: eram a manifestação física dos banidos na dimensão do Limbo. Eles berravam em vozes misturadas:

- Os guardiões, os guardiões! Vingança!

Os mórbidos seres lançaram-se contra os heróis, sedentos por sangue. Seguiu-se uma luta feroz. A Raposa, dotada de grande velocidade, esquivava-se de todas as investidas, desintegrando seus inimigos com raios da Energia Ban, disparados de seus olhos. O Lobo, possuído por sua fúria habitual, enfrentava as criaturas em luta franca, frete a frente, rasgando-as com suas garras encantadas. O Vampiro pulava em pequenos voos, mergulhando nos inimigos com seus dentes e garras, cravando-lhes os caninos e tremendo até desmembrá-los. Com a Caneta do Supervisor, o Ornitorrinco lutava como um espadachim, desenhando no ar linhas de Energia Ban que cortavam em postas as criaturas malditas. O Homem de Costas apenas se defendia: as palavras de Hades ecoavam em sua cabeça, mas o seu medo de pecar era imenso. Ele não podia usar a Substância Ban em suas partes, seria perigoso demais.

Em pouco tempo, o exército de banidos reduziu-se a um amontoado cinzento de corpos digitais. Os heróis já iam adentrar a igreja quando a porta foi arrebentada com um golpe de grande violência. Os heróis esperaram, em meio aos corpos, pelo inimigo que surgiria. Ouviram-se sons de cascos contra o chão, em galope. Logo, de dentro da catedral, apontou uma criatura medonha, que lembrava um centauro, mas no lugar da metade humana havia um corpo felino. O Ornitorrinco deu um passo firme à frente e disse:

- Pocotómiau. Por que não estou surpreso?

- Pato! – urrou a criatura, numa voz afinada que lembrava um miado. – Enfim...

- Você, com suas inúmeras contas fake, trouxe o Caçador dos Céus de volta a Cepetelândia – gritou o Ornitorrinco, os pequenos olhos em brasa. – Por quê?

- Skyhunter, meu irmão de exílio, prometeu-me apenas uma coisa. – Disse ele, trotando lentamente na direção do Supervisor – a chance de um acerto de contas.

- Por vingança – disse o Ornitorrinco, a caneta do Supervisor na nadadeira – você colocou em risco toda Cepetelândia. Essa luta é minha!

A abominável criatura acinzentada, metade equina metade felina, saltou sobre o Supervisor com suas garras afiadas e cascos brutos. O Ornitorrinco rolou sobre a cauda achatada, evitando o golpe. Ele riscou no ar um traço com a caneta mística, que também não atingiu o inimigo. Os dois ficaram de pé, deslocando-se de lado e olhando-se nos olhos, em círculo. O Ornitorrinco tomou a iniciativa e brandiu a caneta no ar, em diagonal, formando um arco de energia que disparou em direção ao oponente. Este se esquivou e, num movimento rápido e impressionante, girou o corpo e golpeou o Ornitorrinco com um coice, fazendo com que ele caísse no chão e a caneta do Supervisor voasse longe. Rapidamente, Pocotómiau saltou sobre o guardião, imobilizando-o com os cascos das patas dianteiras. Ele preparou as garras felinas e disse:

- Hoje você vai pagar por aqueles trinta por cento. Suas últimas palavras, pato? – Grasnou, o ódio nos olhos cinzas, as afiadas unhas prontas para atacar.

- Só uma coisa de que você se esqueceu, meu velho – disse o Ornitorrinco, com um sorriso que raramente demonstrava.

- E do que foi? – Disse Pocotómiau, a garra levantada para o golpe.

- De que eu não sou um pato, sou um ornitorrinco!

O guardião, lançando mão de sua arma secreta, cravou nas ancas do centauro os esporões peçonhentos das patas traseiras, injetando-lhe grande quantidade de poderoso veneno. Imediatamente, a toxina desencadeou na criatura a dor mais insuportável que se pode imaginar, fazendo com que ela caísse no chão em convulsões violentas. O Ornitorrinco levantou-se e buscou a Caneta do Supervisor. Com um golpe de misericórdia, separou do corpo a cabeça felina, pondo fim à miséria do banido. Ele tirou a sujeita dos pêlos e limpou com a nadadeira um pequeno filete de sangue que escorria do bico, dizendo em seguida:

- Skyhunter é o próximo. Adiante!

Os heróis passaram pela entrada e chegaram à nave do templo. Lá dentro, ainda derrotaram mais uma dúzia de banidos antes de chegar, finalmente, diante do altar. A catedral fora construída com pedra e barro do próprio Limbo, nas paredes não havia vitrais, apenas as aberturas ogivais onde deveriam estar as janelas. Os bancos para os fiéis foram improvisados com troncos e galhos retorcidos, dando um ar tétrico e miserável à catedral. Na abside, à frente do altar-mor, estava um homem vestido com calça social, camisa branca e gravata azul-marinho, o cabelo penteado todo para trás com muito gel. Atrás dele, sobre o altar-mor, flutuava o Sagrado Botão de Alerta. Ele gritou:

- Infiéis! – A voz grasnada ecoou pela nave. – Vocês me silenciaram em Cepetelândia, mas não o farão aqui!

- Você quase destruiu a Grande Floresta com seus sermões vazios, Skyhunter! – Disse o Ornitorrinco. – Você merece estar aqui! Não pode usar o nome de Deus para promover seus debates verborrágicos!

- Deus? Rá! – Disse Skyhunter, a face enrubescida de ódio. – Esse foi meu erro, adorar a um deus! Depois de muita reflexão na solidão do Limbo, finalmente compreendi que, na verdade, eu sou Deus!

- Ele enlouqueceu. – Disse o Vampiro, em voz baixa.

- Com o poder do Botão de Alerta – continuou o lunático – reunirei meu próprio rebanho, as almas que vocês mesmos despejam no abismo. Em breve, sua Grande Floresta virará um mural de debates religiosos, serão banidos todos os outros assuntos! Marcharemos sobre Cepetelândia, queimaremos suas ninfas bruxas e seus Moderadores hereges, vocês, aberrações, serão postos a ferros até reconhecer o único e poderoso Deus, eu! O Caçador dos Céus!

- Basta dessa ladainha – rosnou ferozmente o Lobo – você está acabado!

Quando os guardiões se preparavam para avançar sobre o falso profeta, ele fez um sinal com a mão direita e quatro raios esverdeados foram disparados do Botão de Alerta, atingindo em cheio o Ornitorrinco, o Lobo, a Raposa e o Homem de Costas, projetando-os vários metros para trás e fazendo-os cair sobre os troncos e galhos. Todos receberam 30% de alerta, de uma só vez. Skyhunter riu e disse:

- Veem? A cada momento tenho mais controle sobre o totem! Logo conseguirei decifrar o restante do código-fonte e poderei alertar o quanto e quem eu quiser! – Ele começou a rir freneticamente.

- Não! – Gritou o Vampiro, enquanto acudia seus companheiros. – Vamos detê-lo antes disso!

- Ninguém pode me deter – gritou, ensandecido. – Irmãs! Protejam seu líder! Falta pouco para que eu consiga compreender todo o algorítimo!

Do oratório que ficava por detrás do altar, saíram dezenas de obreiras, todas de saia longa azul-marinho, camisa barata de abotoar e cabelos em coque. Elas berravam “- Skyhunter é o senhor, Skyhunter é o senhor!” e avançaram sobre os heróis. Diferente dos banidos, elas eram inimigos formidáveis, atacavam velozmente com suas unhas mal-feitas e gritos de culto ensurdecedores. O Vampiro e a Raposa moviam-se tentando se esquivar das investidas, mas as obreiras infernais foram concebidas com as poderosas instruções do totem, elas eram capazes até mesmo de subir o nível de alerta da vítima conforme golpeavam. O Ornitorrinco e o Lobo tentavam abrir caminho por entre elas, inutilmente. No altar, os algoritmos do Botão de Alerta flutuavam em letras e números verdes ao redor do Caçador dos Céus, que os manipulava com a ponta dos dedos. Era questão de tempo até que todo o código fosse interpretado. O Homem de Costas estava encolhido num canto, três obreiras chutavam suas canelas nuas enquanto ele chorava. O Ornitorrinco sabia muito bem do potencial destrutivo do Homem de Costas, ele precisava apenas se libertar do remorso e da repressão católica. Ele gritou:

- Homem de Costas! Use a Substância Ban! Só você pode enfrentá-las.

- Não, eu tenho vergonha, não posso pecar – choramingou ele.

- Diga!... – Gritou o Ornitorrinco, com as unhas de uma obreira cravadas no pescoço. – Diga agora! Quem você é? Diga!

- Eu sou... - murmurou o Homem de Costas, lemrando-se das palavras de Hades.

- Diga! – Berrou o Ornitorrinco, já com quase 50% de alerta.

- Eu sou... um reprodutor! – Gritou, finalmente, o Homem de Costas. Ele sacou a cabaça contendo a Substância Ban e derramou-a toda sobre suas partes místicas, abaixo da cintura e pouco acima da virilha. – Um reprodutor! Eu preciso... procriar!

Uma explosão de raios e luzes, que lembrava os primeiros efeitos especiais da década de 70, rechaçou as obreiras que atacavam o Coordenador. Uma nuvem de fumaça branca cobriu-o, chamando a atenção de todos e interrompendo a luta. Quando a fumaça se dissipou, o Homem de Costas já não usava seu sobretudo, seu corpo estava coberto em parte por circuitos eletrônicos, uma lente cibernética vermelha cobria seu olho esquerdo, uma forte luz emanava de suas partes encantadas. A Substância Ban livrou-o de toda a culpa e remorso, metamorfoseando-o no macho alfa, o reprodutor atômico, o poderoso Ciborgue Erótico, cujo único instinto era preencher qualquer buraco vazio e reproduzir freneticamente. Diante do perigo iminente, o Ornitorrinco gritou:

- Rápido! Sentem no chão!

Os guardiões protegeram suas propriedades quando o Ciborgue Erótico estalou os dedos. Ao seu comando, luzes coloridas de discoteca tomaram o interior da catedral e começou a tocar “Hot Stuff” de Donna Summer. Com um uivo de furor, o amante cibernético começou a perseguir as obreiras, que fugiam desesperadas, tropeçando umas nas outras tentando fugir da inevitável fertilização. Diante da confusão, Skyhunter gritou:

- Blasfêmia! Blasfêmia! Todos vão para o inferno!

O Ornitorrinco, aproveitando-se do momento de distração, usou suas últimas forças para ficar em pé e, num movimento preciso, lançar a Caneta do Supervisor contra o Caçador dos Céus, atingindo-o na testa e injetando-lhe no crânio toda a Substância Ban do artefato mágico. Ele virou os olhos, os dedos curvos tremiam enquanto as mãos tentavam alcançar a poderosa caneta, inutilmente. Ele ajoelhou-se e caiu de lado, fulminado.

Os guardiões, muito feridos, aproximaram-se do corpo do falso profeta. Olharam-se num sorriso mútuo, ao som de Donna Summer e sob as mágicas luzes coloridas conjuradas pelo Ciborgue Erótico, que continuava em sua incumbência de procriação. A cidade estava salva.

2 comentários:

  1. sem graça XD CaVaLoGaTo

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  2. Todos esses seres mitológicos em breve cavarão suas próprias sepulturas.

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