segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios (2009)

"Prova irrefutável do amadurecimento do diretor, Bastardos Inglórios é o filme mais bem acabado de Quentin Tarantino, uma subversão da história do nazismo e a prova de que é possível criar algo original a partir de um tema tão desgastado. "

Sobre os filmes de Tarantino há uma certeza: não importa se os espectadores gostarão ou não, sempre haverá discussões e debates fervorosos na saída da sala de exibição. Desta vez não podia ter sido diferente. Quando saí do cinema, após mais de 150 minutos de filme, havia um verdadeiro debate no banheiro masculino, onde um ou outro geek mais exaltado brandia furiosamente o punho defendendo algum argumento enquanto tentava evitar que gotinhas de você-sabe-o-quê caíssem em seu All-Star azul.
Tanto furor se justifica: Bastardos Inglórios dividiu a crítica no mundo inteiro. Há quem diga que o filme desperta uma rivalidade entre judeus e alemães já superada, que abusa da violência, que é longo demais. Palavras tolas de quem não alcança a genialidade do diretor Quentin Tarantino, que mais uma vez nos brinda com uma obra ácida, cheia de humor, sarcasmo e homenagens aos filmes western.
A história gira em torno de três personagens principais. O Tenente Aldo Raine (Brad Pitt), é líder de uma milícia composta por judeus americanizados infiltrada em territórios tomados pelos nazistas com um único objetivo: matar o maior número possível de alemães com requintes de crueldade. Essa milícia fica conhecida entre os alemães como Os Bastardos, que dão título ao filme. Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent) é uma judia que vive com identidade falsa na França ocupada pelos Nazistas. Única sobrevivente do massacre de sua família, ela se vê diante da oportunidade de consumar uma terrível vingança contra os algozes. O temido coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz) é responsável pela segurança dos altos oficiais da SS. Sua incrível perspicácia e capacidade investigativa rederam-lhe a alcunha de Caçador de Judeus. O filme, dividido em cinco capítulos, narra como o caminho desses três personagens se cruzaram, tendo como pano de fundo os últimos momentos da 2ª Guerra Mundial.
Quem espera ver mais um filme sobre o nazismo e o massacre de judeus deve passar longe da produção de Tarantino. Absolutamente original e imprevisível, Bastardos Inglórios enfoca a história por ângulos jamais vistos. Aqui os judeus não são representados da maneira típica (mulheres indefesas e confusas, garotinhos, velhos macérrimos e doentes), mas por jovens vigorosos que estão dispostos a contra-atacar. Os Bastardos são cruéis, e essa crueldade é o que os torna temidos entre os nazistas. A verdade é que todo o filme é uma espécie de armadilha anunciada para os oficiais do Reich, que aqui tem os mesmos medos e precauções dos judeus.
A linguagem desempenha papel essencial no filme, que é falado em quatro idiomas. Não vejo como esse filme pode ser dublado para passar na TV aberta, visto que as situações mais bem desenvolvidas envolvem um inteligente jogo entre os idiomas, algo verossímil para uma região tomada por alemães, franceses, italianos, americanos e judeus. Destaque para o ator Christoph Waltz, que demonstra incrível fluência em todas as línguas faladas, sem nunca descuidar de sua excelente (e premiada) atuação.
Por falar em atuação, Christoph Waltz domina. Sua entrada em cena é magnética desde os primeiros momentos do filme: é impossível descolar os olhos do ator austríaco que cria um personagem extremamente cínico, violento e, ao mesmo tempo, carismático, mesmo sendo o antagonista da história. Brad Pitt está impagável como o tenente linha-dura e matuto do Tenessee. Os momentos em que os dois personagens se encontram são curtos e intensos. A conversa em italiano entre o Aldo Raine e Hans Landa entrou para minha galeria particular de momentos mais engraçados e esdrúxulos da história do cinema. Mélanie Laurent tem atuação econômica, burocrática até. Ela é engolida pelos outros dois atores que são um verdadeiro espetáculo à parte. Seu melhor momento é sua preparação para a première nazista, com Cat People (Putting out Fire) de David Bowie ao fundo. Plasticamente, é um dos momentos mais bonitos do filme.
Bastardos Inglórios poderia ser classificado como um filme irretocável não fosse pela atuação mediana de Mélanie Laurent, que não consegue cativar o espectador, e a longa duração de certas cenas que podiam ter sido podadas para evitar a perda de ritmo na trama (especialmente nos capítulos 3 e 4). São detalhes que, nem de longe, comprometem a produção, mas são máculas que poderiam ter sido evitadas.
Quanto ao aspecto da violência, ora, quem vai assistir a um filme de Tarantino já tem de estar preparado para isso. Se não está, na sala ao lado está passando Se Beber Não Case. Digo mais: acredito que Bastardos Inglórios seja o filme do diretor mais econômico no jorrar do sangue. As cenas mais violentas estão nos capítulos 2 e 5, sendo que nenhuma delas é gratuita; naturalmente não posso dar mais detalhes para não estragar as surpresas do filme, basta dizer que a chegada do Urso Judeu dá calafrios macabros.
Esse é, sem dúvida alguma, o filme mais maduro de Quentin Tarantino, uma prova de que o excêntrico diretor continua a evoluir, fugindo da armadilha da repetição-de-fórmulas-que-deram-certo, tão comuns em Hollywood. O fato de que mesmo seus fãs mais ardorosos surpreenderam-se com as inovações presentes em Bastardos Inglórios prova que o diretor ainda tem muito para mostrar. Eu agradeço e aguardo.





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Um comentário:

  1. Oi, querido! Já que os fins-de-semana teimam em passar sem que estejamos frente a frente, cá estou eu para matar as saudades do seu humor ácido e certeiro.
    Ainda não vi Bastardos Inglórios, e por isso parei esse post na metade, pq que não queria saber demais. Confesso que estou de preconceito com esse filme, pois cada vez que vejo Brad Pitt no cartaz só consigo imaginar seus oito filhos agarrados em seu pescoço e uma Angelina Joly louca de avental, panela e mamadeira em punho, pronta a espancar seu marido se o mesmo não fizer suas tarefas direitinho (enfim, viajei).
    Mas eu acho que ainda vou vê-lo no cinema, e aí passo aqui de novo pra te dizer.
    Pra você ver, minha implicância com Brad é tanta que dia desses em vez de ver "Bastardos", eu vi "Os Normais 2", com a esperança idiota de voltar a rir como nos primeiros episódios do seriado. Escolha imbecil. Esse filme não vale nem rolo de negativos que come..
    Miriam
    Beijos pra você e pra Dani!

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