domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quando a inércia e o comodismo falam mais alto

Quando cheguei em casa hoje, depois de arrastar a minha bicicleta do Mochón até aqui sob o sol assassino das 14:00 (quebrara-se o eixo da roda traseira) estava cansado até alma. Magoado. Desmotivado. Penso: do que adiantou ter me capacitado tão bem no curso do SESC se aqueles para quem eu devo transmitir o conhecimento não têm interesse sincero em adquiri-lo?
Passamos a manhã organizando o primeiro planejamento interdisciplinar do ano. A verdade é que o dia não começou bem: recebemos a notícia de que turmas foram fechadas, muitos professores perderam tempos na escola e alguns foram devolvidos à coordenadoria. Isso já não deixou o clima muito propício à receptividade de novas idéias.
Enfim, fui com meu grupo para uma sala e começamos a fazer o planejamento interdisciplinar, partindo de um texto e fazendo o link com outras disciplinas. Começou bem, mas bastou eu me ausentar da sala por meia-hora para tudo ruir. Uma professora veio com notícias de outra sala, em que o planejamento estaria sendo feito à moda antiga, o que exige muitíssimo menos trabalho. Como resultado, assim que eu retornei, recebi uma dúzia de carrancas ao tentar dar prosseguimento ao trabalho: o maldito vírus do comodismo veio encubado naquela professora e contaminou a sala. Tudo perdido.
“- Ai, que fome...”, “- Faz assim mesmo!”, “- Do outro jeito é mais fácil”, “- Que dor de cabeça!”, “- Ainda tem que fazer mais?”.
Tomado por uma irritação que não é do meu feitio, fechei o notebook, encerrei a reunião e vim para casa cuspindo marimbondos. O que há com essa gente? Como tem a cara-de-pau de reclamar dos problemas da educação se são incapazes de ousar fazer um simples planejamento diferenciado? Faltou boa vontade, é claro, mas o problema vai além.
Nossa classe sofre de uma moléstia terrível, que ainda não recebeu nome, mas que consiste dos seguintes sintomas: reclamar de tudo (alunos, sala de aula, direção, salário) e não fazer absolutamente nada para mudar. Quando uma nova proposta é apresentada, sentem-se insultados: “- Ah, é mais trabalho pra gente!”, “- Não vai dar certo!”, “- Não ganho pra isso!”. Gente assim não tem o direito de reclamar de nada. Gente que trabalha infeliz, que queria estar em outra profissão, mas que encontrou no magistério público um porto seguro para suas vidas. Gente sem vocação, que trabalha da mesma maneira medíocre há anos e tem preguiça de melhorar. Gente mole, parada, sem-graça.
Poucas são as vezes em que penso seriamente em desistir de um projeto, mas essa idéia passou-me hoje pela cabeça. Não é possível trabalhar com pessoas que não querem mudar porque mudar dá trabalho. Pedir que um professor de matemática leia um texto de uma única página é considerado indecente, pedir que ele elabore uma atividade a partir dali, uma ofensa. Não houve na formação continuada de professores uma oficina que nos ensinasse a lidar com isso, especialmente quando essas mulas são a maioria. Não sou caubói, não nasci para laçar gado.
Não é verdade que os professores sejam os grandes culpados do fracasso da educação neste país, mas isentá-los completamente da culpa é leviandade. Há, sim, um grupo enorme de maus profissionais que estão insatisfeitos, mas não abandonam o magistério; que reclamam dos alunos, mas não tentam cativá-los; que se queixam da apatia do governo, mas que fogem das capacitações oferecidas; que reclamam dos maus resultados, mas se negam a mudar seus métodos. Hoje estou triste, pois descobri estar cercado por muitos desse naipe.
Haverá uma nova reunião na próxima semana, quando será feita mais uma tentativa de planejamento interdisciplinar. Entretanto, morreu no meu peito a esperança de encontrar outros que, como eu, acreditem verdadeiramente que uma nova proposta possa melhorar o mundo. Resta, agora, atiçar as mulas para que caminhem. Mas o caminhar das mulas não é lá grande coisa mesmo.

3 comentários:

  1. QUE AZAR HEM KKKKKKKKKKKKKKKK

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  2. Concordo com você, infelizmente é uma realidade. Seu texto me fez refletir a formação desses profissionais e procurar saber as causas de tal comodismo. Por que tanta resistência para mudar?
    Mas não seja tão pessimista amigo. Com todos os problemas ainda tenho a esperança de uma revolução no ensino neste sentido.

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  3. Olá! Tudo bem? Sou a Coordenadora Estadual de Ensino Médio...Em Reunião em BSB sobre Ensino Médio Inovador...Falei deste blog...E aproveitei para SEGUIR...Mais Graças!

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