quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Resumo da ópera

Os amigos e leitores do Três por Cento vêm acompanhando junto comigo a luta dos professores do Estado contra as propostas indecentes do governador para nosso reajuste salarial e plano de carreira. Pois bem, o martelo foi batido, não há muito mais a fazer, eis então o resumo da ópera – neste caso, está mais para tragédia de Shakespeare.
Depois do absurdo ataque da Polícia Militar aos professores, acreditei que a repercussão do caso ajudaria a mobilizar a população a favor da nossa causa, posto que o ato foi repudiado por todos. Ao que parece, o governador achou a mesma coisa, porque sancionou rapidamente o PL 2474 na sexta-feira passada, véspera de final de semana, para gerar o mínimo de polêmica e discussão. Outra covardia, nova apunhala pelas costas.
Com a lei sancionada, há pouco o que fazer. Somente uma mobilização maciça dos professores fluminenses poderia pressionar o governo, mas isso não acontecerá por três motivos:
1. Grande parte dos professores concursados ainda está em estágio probatório, o que dá aos profissionais a falsa idéia de que não podem entrar em estado de greve. Servidor em estágio probatório pode fazer greve sem nenhum risco de exoneração, porque tem os mesmos direitos do servidor efetivado. Como sempre, a falta de informação é uma das maiores armas do governo contra a classe.
2. Muitos professores fazem GLP, o que os impede de fazer greve. Para quem não sabe, o governo maldosamente cancela as horas extras dos professores grevistas, o que é absurdo, já que uma coisa nada tem a ver com a outra. Como o professor precisa do dinheiro da GLP para sobreviver, já que é impossível manter-se com nosso ridículo salário, o governo tem mais uma arma para impedir o servidor de exercer o direito constitucional da greve.
3. Os diretores de escolas, que há anos não são eleitos por processo democrático, mas por indicação política, em sua maioria não apóiam ou mesmo coagem os grevistas, ameaçando-os com o temido código 61. Esse código, que nada mais é do que o reconhecimento de que o professor fez greve em tal dia, não traz nenhum prejuízo além das implicações naturais do estado de greve: desconto do dia parado ou reposição daquele dia de aula.
Esta é a tabela final da incorporação do Nova Escola, até 2015 (alguém ainda consegue falar em incorporação até 2015 sem dar uma risada?):

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Neste momento não tenho esperança de que haverá qualquer avanço nas negociações com o governo. Eles nos têm no cabresto das GLPs, e isso não mudará em curto prazo. Resta, então, duas saídas: mandar o Sérgio Cabral e toda a Alerj tomarem naquele fétido lugar onde o sol não bate e começar do zero, fazer uma nova faculdade e abandonar de vez o magistério, essa carreira tão bonita e tão desprezada nos dias de hoje. Ou... insistir. Acreditar que cada professor que se mantém no magistério a despeito de toda essa adversidade é, na verdade, um herói, alguém que sabe da sua importância, da sua indispensabilidade para um mundo melhor e mais justo.
Eu fico com a segunda opção, mão sei por quanto tempo, por quantas humilhações mais, mas fico, enquanto durar o amor. Porque só o amor explica a arte de ser professor e ainda ser capaz de lançar ao aluno um sorriso de esperança.

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