segunda-feira, 13 de julho de 2009

Quem tem medo de Andy Warhol?

Os senhores eu não sei, mas às vezes tenho vontade de varar um prato na minha televisão. E digo prato porque tenho o péssimo hábito de me alimentar diante do aparelho. Desculpe pela pergunta retórica, mas alguém ainda aguenta ouvir em todos os programas, em todos os canais, em quase todos os horários, notícias sobre Michael Jackson?
Não serei leviano, é sabido que a massa adora fartar-se à exaustão da notícia da moda, banqueteando-se de informações redundantes que começam no Fantástico, passam pelo Domingo Legal e pelo Super Pop e terminam em algum desses programas obscuros que passam na madrugada, como um tal de Show Mix (você já tinha ouvido falar? Nem eu, passa nas madrugadas de domingo para segunda, na Band, é péssimo). Não obstante esse fato, esse bombardeio desmesurado de Michael Jackson foi demais até para esse público: uma avalanche de filmes, especiais, biografias, clipes repetidos até exaurir a paciência do mais ávido telespectador.
Acontece que superestimaram o interesse do público pelo passamento do artista. O conceito do pop nunca esteve tão difundido e tão enraizado entre a massa: os quinze minutos de fama já parecem tempo demais. É irônico: a mesma indústria que despeja sobre nós a cultura pop, que prega justamente a efemeridade da obra de arte e a rápida permuta de toda uma estrutura de valores por outra, agora amarga o desinteresse desse público feroz, faminto por novos fatos ou factóides. “- Michael Jackson eu já sei que morreu, quero saber é se ele era alienígena, se tinha dois pênis ou se tinha chantilly correndo nas veias”. O fato é que o sujeito morreu e, como não há muito a acrescentar, surge diariamente todo tipo de atrocidade disfarçada de notícia nova, coisas tão grotescas que constrangem quem ouve, que vão desde sombras fantasmagóricas vagando pela casa do artista até o rosto do próprio aparecendo no fundo de uma assadeira.
Pense bem, quantas pessoas em sua roda de amigos puxou o assunto “Michael Jackson” neste fim de semana? Tente lembrar. Meus alunos, termômetro confiabilíssimo do pensamento coletivo, não tocaram no assunto uma única vez essa semana. Não acredite quando os programas televisivos afirmam que ainda há uma febre, uma comoção nacional por Michael Jackson. Olhe à sua volta: estão todos preocupados com as contas do final do mês, com as gorduras localizadas, com a prova de Português, com a fidelidade do namorado, com a prestação do carro. Acredito vigorosamente que todos estão cagando para Michael Jackson, porque têm coisas muito mais importantes para ocupar o pensamento e as conversas.
Nada mais pop do que ter o enterro mais famoso do mundo por quinze minutos, e só. Onde quer que esteja, Andy Warhol deve estar se gabando.

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