terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carnaval off / Mochón on

Antes de qualquer coisa, sobre o carnaval: foi talvez a folia de maior prostração da história de qualquer carioca. Após a semi-boa saída na sexta-feira, todo o restante da festa de Momo foi curtida de costas esticadas no sofá, olhar fixo para o teto com algumas rotações à direita para ver qualquer besteira que estivesse passando na TV. Os quatro dias foram assim: não fui pra bloco, não tomei um porre, não me travesti de piranha. Nem churrasco nós fizemos. Não pense porém, caro leitor, que estou me queixando: esse foi um período de descanso essencial para que o ano começasse com o pé direito. Uma das vantagens da carreira docente é a garantia das férias em janeiro, período ideal para viajar e fazer uma farra fora do período libertino, caríssimo e tumultuado do carnaval. Nossa folia já tinha acontecido na Bahia há poucas semanas atrás, por isso, nada mais justo do que dar ao corpo uns dias para relaxar antes de começar a ralação na sala de aula.
E por falar em ralação... essa palavra é pouco para definir o trabalho do cão que tivemos nesses últimos dias de recesso. A partir da quarta-feira de cinzas empenhei-me em três tarefas que exigiram muito de mim, física e mentalmente:

1. Elaborar uma síntese do filme À Procura da Felicidade para ser exibido na aula inaugural de segunda-feira, tarefa que deu muito trabalho pela sua complexidade: além de selecionar as melhores partes do filme num amálgama que fizesse sentido para os alunos, ainda intercalei as cenas com mensagens interativas que remetiam a discussões sobre a persistência e a superação. A síntese ficou com 27 minutos (contra 120 do filme completo) e, modéstia à parte, ficou muito boa;
2. Organizar e formatar a prova interdisciplinar: as questões foram chegando aos poucos por e-mail, e fiquei constantemente atualizando o arquivo. Além disso, ainda tive que dar umas dicas para os colegas que ainda não entenderam o espírito de uma prova desse tipo (essa parte deu mais trabalho do que propriamente a digitação);
3. Administrar o fórum e os cadastros dos professores: além de passar dias praticamente conectado à Matrix para autorizar as contas dos professores no fórum, ainda tive de ficar constantemente alerta para evitar que os novos usuários fizessem um furdúncio logo no primeiro dia de uso. Foi um tal de gente criando tópicos fora do lugar que não foi mole, além de assuntos duplicados e inadequados. Sem contar o suporte online que prestei aos mais atolados.

O mais "bacana" é que essas três tarefas foram todas executadas quatro dias a fio, ininterruptamente e simultaneamente. Acredito que esse foi o maior teste físico/mental que já encarei. No fim, o sucesso, que veio sanar a fatiga e o esgotamento desses dias de ralação.
Todo o resultado dessa trabalheira foi exibido hoje no Mochón. O trabalho valeu a pena, tenho certeza de que colaborei de maneira decisiva para o bom desempenho da escola neste ano. Maiores informações sobre os assuntos relativos ao Ensino Médio Inovador no Mochón podem ser obtidas nestes meu blog exclusivo para temas do EMI.
São exatamente 01:02, daqui a poucas horas vou ministrar minha primeira aula pra valer do ano. Hora de descansar mais um pouco e pedir proteção e sabedoria para que esse seja um ano melhor e de grandes realizações.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Lentidão ao som da caixinha de música

Estou desde ontem sem Velox e sem conseguir falar com a OI. Neste exato momento estou com os fones de ouvido do celular enquanto digito, ouvindo aquela musiquinha de espera desagradável. O celular está marcando 21 minutos de ligação e ainda não consegui falar com o atendente. Esse será, portanto, meu primeiro post ao som de música de espera da Oi – cada dia minha vida fica mais curiosa.
Essa foi uma semana daquelas. Basta conferir o Blog do EMI para ver que não houve descanso, de segunda a sexta (mesmo que hoje não tenha trabalhado, o corpo estava tão moído que não tive ânimo para coisa alguma). Pelo menos o esforço valeu a pena: nossa apresentação na UERJ foi aplaudida e comentada por todos, já que das 16 escolas participantes do EMI no Rio de Janeiro apenas a nossa apresentou os trabalhos realizados na semana seguinte ao curso do SESC, enquanto as demais escolas limitaram-se a passar videozinhos com fotos de projetos passados.
O aniversário da Dani não foi comemorado já que, quando estávamos no shopping tomando nosso chope na santa paz do Senhor, nossa diretora apareceu e acabamos por falar de trabalho o dia inteiro. Chegando em casa...

Pausa para registrar o atendimento da OI, depois de 29 minutos ouvindo musiquinha: o técnico disse que vai resetar o sinal da conexão remotamente para tentar resolver o problema. Caso não resolva, vai mandar um técnico aqui em casa para ver o que há com a bagaça. Detalhe: se o problema não for da Oi, eles cobram uma taxa de R$ 30,00. Anotado o número de protocolo para futuros processos: 217029380416. Tempo total com o fone nos ouvidos: 39 minutos (e alguns segundos).

... como eu dizia, chegando em casa tivemos de elaborar uma apresentação em Powerpoint com o resumo de tudo o que foi feito desde que voltamos do SESC. Terminei quando eram 3 da manhã e não consegui dormir por causa da ansiedade.
Hoje fomos a um tal de Bar Pioneira, no Parque Leopoldina, para ouvir o sujeito que Dani pretende contratar para cantar aqui em casa no aniversário dela (que será comemorado mais adiante por conta do carnaval). Nada mau, devo dizer, uma pena que o público do tal bar não tenha educação, já que conversavam em tom altíssimo enquanto o rapaz e sua parceira se apresentavam. Isso me deixou irritadíssimo por muito tempo. Admito que a noite não foi agradável para mim, visto que se eu estivesse no lugar do cantor, já teria mandado todos à merda e ido embora.
Vou me mandar para a alcova assim que publicar este post, que não terá nenhuma imagem porque é impossível fazer upload de qualquer coisa com esse modem nojento que o Estado nos emprestou.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quando a inércia e o comodismo falam mais alto

Quando cheguei em casa hoje, depois de arrastar a minha bicicleta do Mochón até aqui sob o sol assassino das 14:00 (quebrara-se o eixo da roda traseira) estava cansado até alma. Magoado. Desmotivado. Penso: do que adiantou ter me capacitado tão bem no curso do SESC se aqueles para quem eu devo transmitir o conhecimento não têm interesse sincero em adquiri-lo?
Passamos a manhã organizando o primeiro planejamento interdisciplinar do ano. A verdade é que o dia não começou bem: recebemos a notícia de que turmas foram fechadas, muitos professores perderam tempos na escola e alguns foram devolvidos à coordenadoria. Isso já não deixou o clima muito propício à receptividade de novas idéias.
Enfim, fui com meu grupo para uma sala e começamos a fazer o planejamento interdisciplinar, partindo de um texto e fazendo o link com outras disciplinas. Começou bem, mas bastou eu me ausentar da sala por meia-hora para tudo ruir. Uma professora veio com notícias de outra sala, em que o planejamento estaria sendo feito à moda antiga, o que exige muitíssimo menos trabalho. Como resultado, assim que eu retornei, recebi uma dúzia de carrancas ao tentar dar prosseguimento ao trabalho: o maldito vírus do comodismo veio encubado naquela professora e contaminou a sala. Tudo perdido.
“- Ai, que fome...”, “- Faz assim mesmo!”, “- Do outro jeito é mais fácil”, “- Que dor de cabeça!”, “- Ainda tem que fazer mais?”.
Tomado por uma irritação que não é do meu feitio, fechei o notebook, encerrei a reunião e vim para casa cuspindo marimbondos. O que há com essa gente? Como tem a cara-de-pau de reclamar dos problemas da educação se são incapazes de ousar fazer um simples planejamento diferenciado? Faltou boa vontade, é claro, mas o problema vai além.
Nossa classe sofre de uma moléstia terrível, que ainda não recebeu nome, mas que consiste dos seguintes sintomas: reclamar de tudo (alunos, sala de aula, direção, salário) e não fazer absolutamente nada para mudar. Quando uma nova proposta é apresentada, sentem-se insultados: “- Ah, é mais trabalho pra gente!”, “- Não vai dar certo!”, “- Não ganho pra isso!”. Gente assim não tem o direito de reclamar de nada. Gente que trabalha infeliz, que queria estar em outra profissão, mas que encontrou no magistério público um porto seguro para suas vidas. Gente sem vocação, que trabalha da mesma maneira medíocre há anos e tem preguiça de melhorar. Gente mole, parada, sem-graça.
Poucas são as vezes em que penso seriamente em desistir de um projeto, mas essa idéia passou-me hoje pela cabeça. Não é possível trabalhar com pessoas que não querem mudar porque mudar dá trabalho. Pedir que um professor de matemática leia um texto de uma única página é considerado indecente, pedir que ele elabore uma atividade a partir dali, uma ofensa. Não houve na formação continuada de professores uma oficina que nos ensinasse a lidar com isso, especialmente quando essas mulas são a maioria. Não sou caubói, não nasci para laçar gado.
Não é verdade que os professores sejam os grandes culpados do fracasso da educação neste país, mas isentá-los completamente da culpa é leviandade. Há, sim, um grupo enorme de maus profissionais que estão insatisfeitos, mas não abandonam o magistério; que reclamam dos alunos, mas não tentam cativá-los; que se queixam da apatia do governo, mas que fogem das capacitações oferecidas; que reclamam dos maus resultados, mas se negam a mudar seus métodos. Hoje estou triste, pois descobri estar cercado por muitos desse naipe.
Haverá uma nova reunião na próxima semana, quando será feita mais uma tentativa de planejamento interdisciplinar. Entretanto, morreu no meu peito a esperança de encontrar outros que, como eu, acreditem verdadeiramente que uma nova proposta possa melhorar o mundo. Resta, agora, atiçar as mulas para que caminhem. Mas o caminhar das mulas não é lá grande coisa mesmo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Blog do Ensino Médio Inovador no Mochón

Com a implantação do projeto Ensino Médio Inovador no Mochón, senti a necessidade de criar um blog paralelo exclusivo para o acompanhamento de todas as etapas deste processo de mudança. Com isso, o Três por Cento vai ficar um pouco mais leve no tocante aos temas relacionados à escola; além disso, o novo blog servirá futuramente como portfólio do colégio, se a direção assim o desejar, se não, será um excelente registro desta nova experiência.


Blog do Ensino Médio Inovador no Mochón

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Capacitação EMI – Dias 4 e 5

OBS: Conforme prometido, postei os eventos do curso do MEC no mesmo dia em que aconteceram, entretanto, os últimos dois dias não puderam ser registrados imediatamente por motivos bem simples: o quarto dia, conforme será detalhado à frente, terminou com uma festa onde eu fiquei, merecidamente, bêbado e incapaz até mesmo de abrir a tampa do notebook para digitar; já o último dia foi marcado pela arrumação das coisas para partirmos e, quando chegamos em casa, só quisemos saber de dormir, é claro.
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O dia começou comigo indo sozinho à academia, porque Dani se esqueceu de colocar o celular para despertar e acabou dormindo demais. Após o costumeiro café reforçado, assistimos às oficinas promovidas pelos professores do próprio SESC:

Oficina 1: Tratou da intertextualidade e interdisciplinaridade. O professor usou como material letras de músicas de Chico Buarque e as já tradicionais versões da Canção do Exílio. A parte mais interessante foi a dinâmica que tratou dos ditos populares: cada participante sorteou um papelzinho com um dito popular e teve de contar aos demais participantes uma história que levasse à descoberta daquele dito.

Oficina 2: Foi a tal Caça ao Tesouro Interdisciplinar, a oficina mais decepcionante de todas. Basicamente a professora oficineira – embevecida com a babação de ovo dos demais professores –, demonstrou como é fácil fazer uma atividade de caça ao tesouro nas faraônicas dependências do Sesc da Barra, não deixando de citar que a escola possui microscópios, binóculos, lasers, materiais químicos e qualquer outra coisa de que seus professores muito bem pagos precisem. Quando pedi sugestões para adaptar a atividade à realidade de um prédio pequeno, recebi como resposta um irritado “- isso são vocês que têm de pensar”. Escroto, lastimável e totalmente diverso do carinho com que todos tínhamos sido tratados desde então.

Oficina 3: Oficina de incentivo à leitura. Não foi excelente, mas trouxe algumas boas idéias: o conceito de que o professor deve manter sua leitura em dia e demonstrar isso aos alunos foi muito importante. Neste ano também tentarei aplicar a sugestão de ler os livros longos em capítulos, aproveitando os alunos que leram para pôr os atrasados em dia com a leiruta.

À noite tivemos nosso coquetel de despedida, no qual apresentamos nosso passo de samba que, pelas fotos, parece ter saído à contento (ipi,ipi, urra!). A festa foi bem servida, com chope e caipirinha à vontade, além de aperitivos diversos. Dani e eu tomamos o nosso justíssimo pileque com um pessoal da Secretaria de Educação do Pará, que também estava se divertindo a valer. Todos voltaram para casa com a Daniele (um “l”), mas Dani, Janaína e eu ficamos para curtir a festa até o final e acabamos por passar mais uma noite no alojamento do Sesc.
O dia seguinte, quinto e último, consistiu basicamente de nosso café da manhã (especial para curar a ressaca), arrumação de nossas coisas e a triste partida.