sexta-feira, 12 de março de 2010

Um dia de cão

Há quem diga que quando as coisas têm de dar errado, elas dão errado todas de uma vez. Isso não é comprovado empiricamente, mas não se pode negar que forças obscuras agem sobre determinados dias das nossas vidas, tornando a rotina algo próximo de uma tortura chinesa. Minha quarta-feira foi algo assim.
A manhã na escola foi péssima por vários motivos. Eu ainda não estava descansado da noite mal dormida do dia anterior, quem é professor sabe que nada é pior do que ministrar uma aula indisposto, ainda mais no turno da manhã. Some a isso uma turma indisciplinada e dispersa e outra indisciplinada e apática, pronto! Eis a fórmula do aborrecimento e da frustração. Foram cinco longas horas naquele esquema aluno tagarela, esporro, silencio, dois minutos, aluno tagarela, esporro, silêncio, dois minutos, aluno tagarela... depois do sucesso da aula de terça, confesso que essa postura das turmas me surpreendeu e me trouxe de volta à terra: é claro que não seria tão fácil quanto eu pensei.
De tarde, cheio daquele cansaço que chega até a alma, eu só pensava em me deitar e descansar um pouco. Pensava. Porque o telefone não parou de tocar por horas a fio: ligações do Mochón, com pedidos de auxílio para ligar o projetor que ninguém na escola, incluindo a "orientadora tecnológica", sabia operar. Depois de dar instruções para a Dani, ela conseguiu ligar o projetor, então eu pensei em me arrumar para ir à academia. Pensei. Porque o telefone voltou a tocar: agora era o som que não saia no amplificador da escola, problema de solução impossível, já que não havia no Mochón o cabo que ligava o notebook ao amplificador. Resultado: a palestra marcada para aquele dia foi cancelada, por um detalhe técnico que custou a imagem da escola diante do palestrante frustrado. Essa foi a pá de cal no ânimo que me restava.
Já atrasadíssimo, saí para a academia na esperança de ainda conseguir completar a minha série, para pelo menos cumprir com as obrigações relativas a minha saúde. Inacreditável, mas, mesmo com a academia vazia, eu não conseguia progredir nos exercícios, porque a Gisele ia com seu aluno de personal para todos os aparelhos que eu precisava usar. E quem conhece a Gisele sabe que as sequências de exercícios dela são longas e complexas, o que me fez perder ainda mais tempo. Já desanimado, recebi uma ligação da Dani: sua mãe havia sofrido uma queda e estava sendo atendida no UPA. Haveria eu atropelado algum despacho sem perceber?
Passei rapidamente no Alcides, larguei minha bicicleta e minha mochila lá e fui para o UPA para ver como estava D. Thelma. Depois de duas horas, ela saiu com uma chapa de raio-X na mão e uma notícia curiosa: na unidade, não havia nenhum ortopedista para analisar as imagens.
De volta à escola, eu descubro que outros dois professores faltaram, havia turmas em tempo vago e o colégio estava uma zona. Tinha tantos alunos zanzando pelos corredores que aquilo mais parecia uma festa. Naturalmente, Fátima queria comer meu fígado, já que não sabia do ocorrido com minha sogra (passei tão rápido na escola que esqueci de deixar o recado para a direção). Tive de me explicar durante um bom tempo no telefone.
Passei no Prezunic para fazer umas compras, onde não fui atacado por leões ou iguanas venenosas, apesar de estar preparado para tal infortúnio. Em casa, o resto da noite foi dedicado por mim e Dani à troca de experiências terríveis sobre esse dia que poderia ser apagado. Fruto de forças ocultas ou não, esses dias de cão existem, inegável. Os céticos que se mexam para formular uma explicação plausível.

Um comentário:

  1. Caro amigo,me desculpe mas tive uma crise de risos com a sua narrativa. Este dia apocalíptico na sua vida me fez refletir sobre o quanto somos testados por Deus a fazer as coisas certas, a ter resignação, tolerância e paciência.
    Acredito que ganhou um pouco mais de cada uma destas virtudes.
    Saiba que pode contar com seu amigo quando precisar.
    Força e Honra!!!
    Coragem!!!!

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