segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fechando Agosto. Sem GLP.



O leitor assíduo do meu blog já deve estar cansado de testemunhar meus rotineiros ataques de fúria causados pelo tratamento dado aos professores por nosso simpático governador que, naturalmente, tinha de aprontar mais uma para fechar com chave de ouro o nefasto mês do desgosto.
Esse já não tinha sido um bom mês, como já havia dito em post anterior, Dani pegou um misto de pneumonia com faringite que a derrubou desde meados de julho até agora. Como ficamos presos em casa, minha única diversão foi mesmo debulhar Oblivion enquanto Dani colocava sua leitura em dia; nada contra o excelente jogo, o problema é ter de jogar compulsoriamente. Já melhor, Dani volta comigo à academia amanhã, o que até poderia ser encarado como uma boa notícia ao fim deste mês se não fosse por um detalhe: amanhã já será setembro, logo, agosto está mesmo perdido.
Enfim, como se já não tivesse bastado esse episódio, o Sr. Sérgio Cabral e sua Secretária de Educação Tereza Porto aprontaram-nos esta: cancelaram as GLPs dos professores, sem aviso algum, para que não recebêssemos pelos 15 dias de recesso por causa da Gripe A (quem diria! Gripe Suína também ataca o contracheque dos professores). Até aí tudo bem (?), todos sabemos como o Estado é unha-de-fome. A questão é que já estamos praticamente em setembro e as GLPs não foram reimplantadas, ou seja, os professores perderam suas horas extras e seus alunos continuam sem aula.
Acredito que o Estado esteja protelando a solução desse problema com o objetivo de se capitalizar para pagar a incorporação dos R$ 100,00 aos salários dos novos professores, que não ganhavam esse polpudo benefício. Os maiores prejudicados serão os alunos que dependiam dos docentes com GLP, que por sua vez são novamente apunhalados pelas costas, deixando de receber repentinamente algo que é mais do que uma simples hora extra: é uma complementação ao salário-base miserável que nós recebemos: R$ 540,00.
Encerro por aqui, não transformarei este post num alfarrábio sobre o tratamento canino dispensado aos servidores fluminenses, apenas deixo à mostra essa nova chaga de quem mais uma vez é ferido em sua dignidade.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Diário de jogos

Desde que iniciei o blog ainda não havia escrito qualquer post sobre outro dos meus (muitos) vícios: os jogos de computador. Falta grave, que começarei a corrigir neste curto post.
Lembro-me de que, pouca antes de começar a escrever no Três por Cento, havia fechado dois grandes títulos: Dead Space e BioShock, o primeiro um excelente horror-survival no espaço, o segundo um shotter originalíssimo passado numa utópica cidade submarina na década de 50. Ótimos games, ambos com continuação prevista ainda para este ano.
Mês passado peguei para jogar o Assassin’s Creed, um dos jogos mais bonitos que eu já vira até então. Uma pena que a beleza é proporcional à chatice: o jogo obriga você a repetir a mesma sequência longa de ações NOVE vezes. Dessa maneira, não há gráficos bonitos que compensem o tédio.
Neste momento estou jogando, com três anos de atraso, The Elder Scrolls IV: Oblivion, aclamado como um dos melhores jogos de RPG já feitos. Já estou com mais de dez horas de jogo, admito que o negócio é bom mesmo, tudo é muito variado e há dezenas de coisas para fazer, desde negociar o preço de uma espada, passando por recuperar um quadro roubado, até achar o irmão gêmeo perdido de um pobre bêbado de taverna. E muitas, mas muitas dungeons mesmo! O único revés desse jogo talvez seja justamente sua longevidade: já li na Internet informações de que há mais de 100 horas de gameplay só para fechar a quest principal, e mesmo depois disso o game pode continuar a ser jogado indefinidamente, cumprindo as infinitas missões disponíveis. Essa característica, que acredito agradar à maioria dos jogadores, não faz exatamente meu estilo: prefiro jogos com enredo bem definido, com início, meio e fim. Talvez isso se deva a minha paixão pelos filmes, que faz com que eu prefira jogos com história mais linear.
Vou finalizar o post sem fazer reviews dos jogos, simplesmente porque seria chover no molhado: já há dezenas de boas resenhas sobre todos os jogos citados aqui. O que fica registrado então é meu primeiro diário de jogos do Três por Cento e, em breve, informações sobre meu progresso nas terras de Cyrodiil.


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pneumonia, links bloqueados e dedos-duros


Semaninha agitada essa de volta às aulas. Ao menos, graças à gripe suína, tivemos mais duas semanas de descanso que, na verdade, não foram tanto de descanso assim. O fato é que esse recesso do meio do ano foi uma verdadeira prostração para mim e para Dani.
Passei boa parte desses dias hospedando filmes em DVDR no fórum do CPTurbo e disponibilizando os links neste e em outro blog. Resultado: o Rapidshare bloqueou os links inutilizando todo o meu trabalho. Para dizer a verdade, neste exato momento (são 02:28h do dia 21, até hoje não sei porque o Blogspot não acerta o fuso horário) estou refazendo o upload de mais de 50Gb, processo que vai levar mais de dez dias. Enfim, posso afirmar com segurança que boa parte do meu recesso foi gasto inutilmente, o que me traz grande felicidade e vontade de arrancar os olhos de alguém.
Lamentavelmente Dani não teve sorte melhor, contraiu uma belíssima pneumonia bem no meio do recesso, moléstia essa que até agora não foi curada e ganhou como companheira uma inconveniente faringite, que a deixou de licença médica por dez dias. Ela, que não suporta ficar parada, está colocando sua leitura em dia, resumindo suas revistas e relendo O Alienista de Machado de Assis.
Apesar desses revezes, não posso dizer que as férias foram perda total. Foi maravilhoso passar um mês inteiro indo dormir às oito horas da manhã e acordando às quatro da tarde, revendo inúmeros filmes clássicos e jogando Assassin’s Creed até fazer bolhas nos dedos. Fazer uns churrascos com os amigos e a família também foi bem bacana, mas o melhor de tudo mesmo foi ter desligado a tecla professor por trinta dias.
Eu estou voltando ao trabalho sozinho, Dani ainda ficará de licença até semana que vem. Na escola tudo está como sempre, exceto por um professor filho da puta do Marechal Alcides que está fiscalizando os colegas e dedurando as faltas e atrasos, inclusive de quem mora muito longe e não tem como chegar no horário. Preciso falar com sinceridade, isto é algo que ainda não entendo: como alguém pode ter prazer em prejudicar o próximo gratuitamente, sem levar vantagem alguma além do gosto de ver o transtorno alheio? Não é uma pergunta retórica, isso realmente eu não compreendo.
O professor está de volta, a todo vapor, mas aquele lado nerd latente estará, mesmo neste último semestre de trabalho, sempre chamando ao blog, aos jogos e aos filmes, ainda que seja nessas horas avançadas – 2:51h, até que esse post saiu bem rápido! :D

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Clássicos que fascinam

Nesta última semana de férias prolongadas (para quem não sabe, graças à gripe suína, ganhamos mais 14 dias em casa), resolvi assistir a alguns dos tais filmes obrigatórios que todo bom cinéfilo deve conhecer. Assistir a esses filmes tem, na verdade, um caráter didático que não necessariamente resultará em diversão.
Na segunda-feira escolhi O Sétimo Selo e anteontem, terá-feira, assisti a Cidadão Kane, o tal filme que alardeiam ser o melhor já feito. A crítica completa de ambos estará disponível em breve. Vou escrever apenas algumas palavras sobre minha opinião geral.
Fico impressionado como esses filmes antigos causam em mim uma satisfação que raramente aparece quando assisto às novas produções. São filmes que têm mais de 50 anos, mas que trazem consigo a marca da genialidade e da sensibilidade. Metafóricos, complexos, são filmes que não subestimam a inteligência do espectador, pelo contrário, obriga-os a pensar e refletir durante a após a exibição. Acima de tudo, são filmes humanos. Não sei se estou certo ao dizer isso, mas tenho uma impressão muito forte de que os cineastas das décadas de 1940 a 1970 tinham uma capacidade superior de apresentar e discutir os conflitos do homem. O Sétimo Selo, em particular, arrebatou-me de tal maneira que assisti ao filme duas vezes na sequência, algo que só havia acontecido comigo quando assisti a Donnie Darko.
Lamento pelos que têm preconceito dos filmes antigos. Estão perdendo a oportunidade de sentir verdadeiramente o que é ser tocado pela arte do cinema.
À propósito, só não publiquei este post mais cedo porque fiz questão de apresentar O Sétimo Selo à Dani e, no meu caso, assistir a ele pela terceira vez, em sequência. Pode parecer exagero, mas ver esses filmes apenas uma vez é uma ofensa ao gênio que os criou e uma perda para quem deixa de apreciar cada detalhe sutil da obra.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O vendedor de revistas

Na primeira quarta-feira das férias (22/07) eu estava num 392 indo ao centro da cidade para renovar meu estoque de mídias virgens e comprar uma bisnaga de pasta térmica para o processador do meu micro, que estava atingindo temperaturas absurdas e resetando a máquina periodicamente.
Tarde amena e agradável de inverno. Estava sentado no lado esquerdo, no canto da janela, nos ouvidos, os fones do celular no volume máximo, na vã tentativa de abafar o incômodo barulho do motor, que fazia trepidar as placas mal fixadas do assoalho metálico.
Na altura de Bonsucesso entrou no coletivo um senhor de uns sessenta anos, negro, vestindo uma camiseta azul manchada, bermuda, chinelos e um chapéu branco já bastante encardido. O homem de barba muito branca lembrava-me aqueles quadros antigos, de preto-velho, com cachimbo na mão e olhar penetrante.
De uma sacola ele tirou um cartapácio de revistas amassadas e começou a distribuí-las, uma por passageiro, em seguida anunciou a venda: “- 50 receitas de salgadinhos! Empadão, empadinha, risole, coxinha, kibe, croquete... na banca paga R$5,00, mas na minha mão vai levar por R$ 2,00!”.
Folheei as páginas e li apenas os títulos das receitas – única coisa que conseguia enxergar – estavam lá todas as iguarias inimigas da boa saúde cardíaca. Com os polegares de ambas as mãos marcando alguma página aleatória, fechei a revista e virei-a de lado para ver o preço: R$ 5,00. Resolvi não aproveitar a “promoção”, pensei que há séculos nem eu nem Dani comíamos salgadinhos de qualquer espécie, havíamos exorcizado essa desgraça de nossas vidas. Além do mais, estava na cara que aquelas revistas eram edições recolhidas que o sujeito arrumara de graça e queria ganhar dois reais em cima de cada uma.
Os demais passageiros pareciam compartilhar do meu pensamento, o velho não vendeu uma revista sequer. Sentou-se do lado direito do coletivo, umas duas cadeiras à frente de onde eu estava. Observei-o pela diagonal, em seu rosto uma expressão resignada, como de quem está acostumado a eventuais fracassos de venda. Nos fones começou a tocar Tears in Heaven do Eric Clapton.
Senti-me mal por não ter comprado a revista. O que são R$ 2,00 afinal de contas? Isso não pagaria nem a passagem do ônibus. O sujeito poderia estar usando como desculpa a idade e a miséria, mas não, estava vendendo revistas com receitas de salgadinhos. Ainda haveria tempo de reverter a situação? O MP3 player do celular tocava: - Would you hold my hand If I saw you in Heaven? Would you help me stand If I saw you in Heaven? Linda canção.
De súbito, interrompi a música, liguei a câmera do celular e tirei uma foto do homem. O fiz porque sabia que escreveria sobre isso aqui no blog, só não sabia ao certo sobre o quê: seria sobre minha covardia de não ter voltado atrás e comprado uma revista inútil para ajudar o homem ou sobre a grandeza de reconhecer a própria mesquinhez, ter tomado a iniciativa de pagar míseros dois reais e ter dado alguma esperança ao velho? A expressão em seu rosto não mudava, não havia dúvida de que toda uma vida petrificara suas feições, que não esmoreceria diante daquele breve fracasso, que subiria em mais cem ônibus e ofereceria novamente as revistas de receitas, sem implorar, sem se humilhar, sempre paciente e tranquilo diante da negativa dos passageiros. Senti-me pequeno diante do homem experiente e resoluto.
- Senhor, com licença, me vende uma revista? Estendi uma nota de dois.
- Pois não.
- Acabo de lembrar que minha tia adora salgadinhos. É boa a revista?
- É, tem receita de coxinha, risole, kibe... – ele folheou a revista e, muito solícito e animado, mostrou suas receitas prediletas. Ouvi com atenção, acenei com a cabeça demonstrando grande interesse.
O velho desceu no ponto seguinte, na altura da passarela 4, próximo à Linha Vermelha. Tornei os fones aos ouvidos e o player continuou a música: - I know there'll be no moreTtars in heaven. Com o peito aliviado, só então me senti digno de continuar ouvindo a canção, naquela bonita e agradável tarde de inverno.