terça-feira, 2 de junho de 2009

O Lutador: um filme para ser lembrado, sempre.

Sou fã de cinema desde moleque, quando frequentava os poeirinhas aqui de Realengo e de Bangu. Lembro que enquanto a turma estava no campo jogando bola, eu estava todo engomado indo ver qualquer coisa que estivesse passando no Cine Realengo, hoje uma igreja evangélica cujo nome não me recordo. Coincidência ou não, até onde sei, daqueles garotos eu fui o único efetivamente bem sucedido. Entendam por bem sucedido trabalhar com aquilo que amo, ter uma esposa maravilhosa e uma casa enorme onde posso continuar vendo meus filmes com o som num volume altíssimo. Sim, o cinema opera milagres.
Desenvolvi um critério bem particular para eleger meus filmes preferidos: um bom filme é aquele que sem querer você acaba sintonizando enquanto passa os canais e não resiste a vê-lo até o final. Um ótimo filme é aquele que quando você sintoniza sem querer você continua passando os canais, porque julga um absurdo ver um ótimo filme já começado. Um filme excelente é aquele que você compra e faz questão de chamar os amigos para ver e discutir. Há ainda uma última categoria: os filmes inesquecíveis. Esses são aqueles que eu vejo um sem número de vezes, vejo pela metade, vejo inteiros, dublados, legendados, com ou sem os amigos. Desses não enjôo nunca, nunca. São obras-primas seletas, que de alguma maneira me tocaram e frequentemente me vêm à lembrança.

“O Lutador” (título original: “The Wrestler”, Estados Unidos, 2008) integrou recentemente essa minha lista especial. Talvez seja o único filme, pelo menos o único que conheço, que trata da realização pessoal de uma perspectiva diferente: o que você faria se dedicasse sua vida toda a um sonho, alcançasse plenamente esse sonho e de súbito tudo fosse arrancado de você, irreversivelmente? Você aceitaria uma vida alternativa, sem brilho, caminhando sobre os cacos do sonho despedaçado, ou arriscaria tudo para resgatar a antiga glória, mesmo que isso acarrete em sua própria destruição?
Randy (Mickey Rourke, arrebatador) dá sua própria resposta com seu “Ram Jam”. Quando assisto a esse filme, e já o assisti inúmeras vezes, é inevitável que eu me faça esses mesmos questionamentos. A vida é uma estrada de mão única, deve ser terrível chegar tão longe e descobrir que há um bloqueio na estrada, que o obrigará a seguir por um desvio de asfalto esburacado e destino incerto. Ver “O Lutador” faz pensar nas decisões que tomamos, no quanto sacrificamos nossa saúde e nossa família por um objetivo qualquer. Daqui a alguns anos esses sacrifícios podem não ter valido a pena e então terá sido tarde demais para qualquer redenção. Por isso, exatamente por isso, é que eu jamais coloco meu trabalho na frente da minha saúde e da minha família, até porque no fim é só isso que nos restará: nossa saúde e nossa família.

2 comentários:

  1. Sabe, tem filmes que realmente são impossíveis de serem esquecidos, principalmente quando somos os protagonistas humilhados e perseguidos por antagonistas cruéis. Vale!!!

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